[ARENA] Ernesto Ceriz • Galeria Trem • Ualg - Artes Visuais • CIAC • FARO

Edgar Massul edmac mac.com
Segunda-Feira, 20 de Abril de 2015 - 11:34:58 WEST




Galeria Trem

Ernesto Ceriz, Sudários (detalhe), 2015 
imagens transferidas, colagens, grafite e acrilico sobre tecido, dimensões variáveis.




Ernesto Ceriz
O Azul do Céu Azul
23 de Abril - 04 de Julho, 2015
April 23 - July 04, 2015
inauguração | opening: 
quinta feira, 23 de Abril, 19h
thursday, April 23, 7pm
Galeria Trem
Rua do TREM, n.º 5, 
8000 Faro
Portugal
Terça-feira a Sábado 11h30 às 19h
Tuesday - Saturday 11:30am - 7pm
Telf.: 289 804 197
http://www.cm-faro.pt
ENTRADA LIVRE | FREE ADMISSION

Il y avait en bas une partie de rocher en surplomb. Si je n'avais, d'un coup de pied, arrêté ce glissement, nous serions tombés dans la nuit; et j'aurais pu croire, émerveillé, que nous tombions dans le vide du ciel. 

Georges Bataille 


A redundância do título, O Azul do Céu Azul, remete-nos a múltiplas interpretações. Conhecendo a obra de Ernesto Ceriz, concluímos que a redundância propositada é, na verdade, uma negativa: o azul do céu não é azul e, apesar da sua aparência leve e positiva, o duplo azul leva-nos aos tons plúmbeos que estão presentes em parte da obra, imagens recoletadas de outros contextos e autores, veladas pelo artista e reveladas neste processo. De Eisenstein a Buñuel, o que temos é um retrato cru da realidade que vislumbramos sob o céu. Neste caso, de um azul intenso nalguns desenhos que não escondem, no entanto, as fissuras do papel, a textura da tinta, o empastelamento. A obra de Ernesto Ceriz é um continuum que se replica em cada novo desenho, em cada nova tela, em cada pano que se descortina diante nos olhos que querem ver, mas que têm a visão toldada pela velatura interposta em cada imagem, num jogo de revelação/ocultação. Num jogo, como o título sugere, de duplicidade e de negação. O artista trabalha sobre artistas que trabalharam o real. Mas o realismo não está patente nem nos autores a que ele se refere e nem no que ele produz. Porque sobre tudo está patente o lirismo das imagens que se bastam, sem precisar de legendas ou explicações. Compõem, por si sós, poemas gráficos, são retratos de uma realidade transladada e recriada. Talvez por isto mais real. Porque nega esta condição e insiste na sua materialidade artística. 

Em 1935, o escritor, pensador e ensaísta francês Georges Bataille escreveu um romance a que chamou de O azul do céu. Como a restante obra de Bataille, o lirismo evocativo do título é apenas uma porta de entrada num universo duro, perverso e mais que real, que não se compunge das suas personagens, mas que mergulha com cada uma delas no abismo das questões infindáveis que em dados momento todos nos colocamos. A busca da realização, da felicidade ou do amor, são caminhos que se percorrem de maneira solitária, e os encontros que se advinham não respondem aos apelos com a mesma intensidade e tessitura, mas desviam e desvirtuam os seus princípios. Este livro só foi publicado quase 20 anos após ter sido escrito porque Bataille se perguntava: Diante da própria tragédia, como prestar atenção aos seus sinais anunciadores? A obra inadvertidamente anunciava o horror da Guerra Civil Espanhola e compunha, através da personagem principal, os discursos de ódio e de desassossego que ecoaram nas palavras dos grandes ditadores ocidentais da segunda metade do séc. XX. Como poderia ele, Bataille, superar a realidade? A obra deixara de fazer sentido porque a realidade era muito pior e mais literária naquilo que a ficção possui de absurdo. A obra de Ernesto Ceriz não é perversa, nem anuncia um porvir que a tornará desnecessária. A sua obra é necessária porque o horror já se instalou de tal forma que se tornou familiar. E é no sentido de desnormalizar e de des-quotidianizar o horror que a obra de Ernesto Ceriz irrompe, usando o lirismo como arma. Só os iniciados poderão perceber o verdadeiro azul deste céu azul. Mas os outros poderão à mesma apreciar a obra. Que se basta. E que não precisa de referências para se compor, sozinha, enquanto discurso do visível e sobre à invisibilidade daquilo que está diante de nós e que queremos ver. 

Mirian Tavares
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