[ARENA] Convite/Informação Exposição CANAL

eduardo matos mgmdesert hotmail.com
Quinta-Feira, 19 de Janeiro de 2012 - 13:19:40 WET




Meus caros (a),
Fica aqui o convite para a minha próxima 
exposição. Desta feita, trabalhei com o André Cepeda num projecto que 
apelidamos de CANAL.
Este trabalho resulta da residência artística 
que ambos realizamos durante o ano de 2011 no Espace Photografique 
Contretype em Bruxelas.

Esta exposição, mostra uma série nova de trabalhos: Fotografias, Vídeo, 
objectos, um  livro (edição de autor) e um projecto sonoro (vinil - 
edição de autor) com a participação de Jonathan Saldanha.
Na vernissage iremos apresentar uma performance sonora, também com a participação do Jonathan Saldanha.

Por último,  o Miguel Von Hafe Pérez irá fazer um percurso pela exposição,  sobre a forma de conversa aberta .

Espace Photografique Contretype - 1, Avenue de la Jonction 1060 Bruxelles

Vernissage - 31 de Janeiro das 18 h as 20 h
Exposição -  1 de Fevereiro a 4 de Março


  


Caro leitor,
Antes de entrar no 
assunto que aqui me traz, permita-me duas notas prévias: este projecto, 
realizado com o André Cepeda, é o resultado de uma residência artística 
na Contretype. Como compreenderá, falar pelos dois é uma tarefa ingrata,
 tanto mais quando se trata de relatar um processo de trabalho que 
decorreu desde Abril de 2011. 


Quando nos propusemos trabalhar sobre o Canal deparamo-nos com uma 
realidade tão complexa e rica em representações possíveis que sentimos 
que as hesitações, os recuos e as decisões entretanto tomadas faziam 
parte de um contexto ele próprio fugidio e flutuante. 


Fica desde já o leitor informado que foi nesta permanente dificuldade que o que agora pode ver se foi estruturando. 
Nos
 primeiros dias o nosso trabalho consistiu em percorrer toda a extensão 
do Canal em Bruxelas. Começamos em Verbrande-Brug, a norte da cidade, 
uma espécie de lugar mítico que já não existe tal como o conhecemos. 
Encontramos pessoas que vivem em barcos no Canal, conhecemos o Little 
Jimmy, um homem da idade de ouro do rock'n’roll e falamos com aquele que
 se apresentou como “o último capitão do porto”. O progresso estava ali à
 porta e, em breve, todos os que vivem ali em barcos serão obrigados a 
partir, explicou-nos: “já não há lugar para nós, para o sonho, para a 
poesia”... 


Passamos algum tempo no bairro onde se negoceiam carros - e tudo mais 
que não se vê mas se adivinha -, e estivemos no Mar do Norte. Mais a 
sul, entramos de carro pela cidade de Charleroi ao som das guitarras 
nuas e melancólicas de Neil Young e Earth e por algum tempo vagueamos 
sem rumo pela cidade. 


Esta experiência lembrou-nos uma outra viagem que fizemos juntos no sul 
dos Estados Unidos da América ao longo do rio Mississipi; lembrou-nos a 
presença da música na paisagem, nos lugares e nas pessoas. Foi assim que
 se nos apoderou um estranho sentimento de que de alguma forma alguns 
lugares da Bélgica se assemelham aos Estados Unidos... 


O Canal é, como aqui o dizem, uma fronteira invisível que atravessa e 
divide a cidade de Bruxelas. É um extraordinário campo de estudo e 
experimentação onde os ambientes e a paisagem se vão metamorfoseando na 
criação de estratos de significação de matriz indecifrável. Mesmo antes 
de ter cá estado, já imaginava uma paisagem construída e manipulada por 
muitas camadas de informação. No preciso momento em que escrevo estas 
palavras, uma grande intervenção tem lugar em toda a sua extensão. Este 
tipo de estruturas produz uma energia própria, uma rede que altera 
completamente a paisagem. Uma dupla paisagem artificial, onde o 
nivelamento, a construção e intervenção urbanística circundante criam 
uma paisagem moderna fria e pragmática: uma energia impossível de 
ignorar. 


De certa forma criamos as nossas expectativas, ideias e visões sobre 
estas paisagens e estávamos ansiosos por sentir simplesmente a passagem 
do tempo numa estrutura desta dimensão: o movimento, a velocidade, o 
ritmo, a repetição. Todas essas coisas que nos distanciam cada vez mais 
da natureza. 


Com o tempo surgiram as primeiras imagens. Uma das fotografias do André 
chamou-me a atenção e posso mesmo dizer que mudou a direcção do nosso 
trabalho. Nessa imagem vê-se um livro aberto sobre uma mesa de madeira. 
Quando o observamos, torna-se evidente que o que vemos impresso nessas 
páginas é um mapa e, com um olhar mais agudo descobrimos que se trata do
 mapa da cidade de Bruxelas. Na parte inferior da imagem é possível 
pressentir a textura do chão; na mesa vemos também uma chávena de café 
vazia e no canto superior esquerdo um outro livro, possivelmente uma 
enciclopédia. 


Ainda que representando objectos em concreto, o grau de abstracção 
inerente a esta imagem acabou por nos colocar perante a evidência nua e 
crua de que aquilo que certas imagens não dizem sobre si acaba por ser 
porventura mais decisivo do que aquilo que supostamente se pode 
contemplar na sua superfície. 


Sabemos que este projecto elide uma infinidade de coisas que não 
reparamos, de que não nos demos conta, ou simplesmente não lhe demos 
qualquer importância. Mas esse olhar para o lado pode determinar, tal 
como na vida, que o recentramento no que importa acabe por se tornar 
mais intenso. 


Nesta exposição imaginamos, então, um lugar onde as imagens e objectos, o
 som, o vídeo e a performance, resultam num tempo narrativo capaz de 
valorizar essa expectativa. 		 	   		  
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