Caro ex-professor de antropologia, muito obrigada pela informação sobre este assunto<div>que me interessa em particular, pois vi o filme há pouco tempo e deu-me muito</div><div>que pensar e falar. Vou fazer chegar este e-mail a amigos interessados que também</div>

<div>não se encontram na dita cuja web social facebookiana. :)</div><div><br></div><div>cumprimentos*<br><br><div class="gmail_quote">2010/2/16 Diniz Cayolla Ribeiro <span dir="ltr">&lt;<a href="mailto:dinizchess@gmail.com">dinizchess@gmail.com</a>&gt;</span><br>

<blockquote class="gmail_quote" style="margin:0 0 0 .8ex;border-left:1px #ccc solid;padding-left:1ex;"><div style="word-wrap:break-word">Caros membros do Arena<br><br>Gravámos esta noite uma nova conversa freudiana (<a href="http://web.me.com/machess/Conversas_freudianas/Podcast/Podcast.html" target="_blank">http://web.me.com/machess/Conversas_freudianas/Podcast/Podcast.html</a>) a propósito do sonho e de tudo o que isto implica em termos freudianos.<br>

Por outro lado, o Zé Gabriel escreveu nas &quot;Conversas Freudianas&quot; do Facebook um comentário à crítica que Francisco Ferreira publicou no Expresso a propósito do filme &quot;Antichrist&quot; de Lars von Trier. Para aqueles que não têm Facebook, e eventualmente estejam interessados nesta discussão, coloco aqui o dito comentário. E ficamos evidentemente à espera que o citado crítico exerça o seu direito de resposta.<br>

----------------------------<br><br>«De como a seriedade de um filme como o Anti-Christo deixa a nu as <br>insuficiências da crítica normótica»<br><br>Como sempre que um mesmo estímulo promove uma extrema diversidade de <br>

respostas, isso permite evidenciar as limitações e as fundações ideológicas <br>daqueles que reajem. Permite, também, criar um ranking e uma tipologia <br>dessas reacções, com ganhos antropológicos, teóricos e práticos, evidentes.<br>

<br>No caso do Anti-Christo, de Lars von Trier, temos, em Lisboa:<br><br>Francisco Ferreira (Expresso) - uma bola negra (negativo)<br>Mário J. Torres (Público) - uma bola negra (negativo)<br><br>Jorge Mourinha (Púlico) - uma positiva em cinco (sofrível)<br>

Luis M. Oliveira (Público) - uma positiva em cinco (sofrível)<br>Vasco Câmara (Público) - uma positiva em cinco (sofrível)<br>V. Baptista Marques (Expresso) - uma positiva em cinco (sofrível)<br><br>J.Leitão Ramos - (Expresso) - quatro em cinco (muito bom)<br>

<br>Será difícil encontrar um exemplo de maior diversidade avaliativa, para um <br>filme que o seu autor, repetidamente premiado, considerou o seu melhor filme.<br><br>Trata-se de um caso exemplar de filmicídio pela «crítica». Vimos, em tempos, <br>

tentativas ideológicas equivalentes, do salazarismo ao comunismo, à Igreja <br>Católica e ao Islão, mas o que interessa aqui é a tentativa de liquidação de <br>um filme «fora de série» por quem não fez nenhum e se propõe formar a <br>

a «opinião pública». Para um filme que não alinha no entretenimento, na <br>onirização «avatariana» ou no «realismo histórico exemplarista» <br>de «Invictus», esta avaliação promove salas vazias e orienta para uma <br>retirada precoce de exibição. As grandes distribuidoras só têm a agradecer.<br>

<br>A tipologia que proponho distingue entre «críticos de cinema» (aqui, apenas <br>um caso, o de J. Leitão Ramos) e «colunistas sociofílicos», em busca de um <br>alinhamento popular de sucesso fácil, promotores da produção de um «senso <br>

comum» mediano, alinhado por baixo, que a «índústria» por certo agradece.<br><br>Nos colunistas sociofílicos, apenas há dois graus - o menos um e o mais um: <br>os «rejeitantes drásticos» e os «rejeitantes moderados».<br>

<br>O vazio entre estes e o «mais 4» (filmofílico prudente»), deixando vazias as <br>casas intermédias da grelha classificatória, mostra a seriedade de um filme <br>capaz de «separar as águas» entre quem usa o cinema para ganhar a vida e <br>

quem serve o cinema como projecto antropológico arriscado.<br><br>Vejamos a «justificação» desta tentativa de liquidação não apenas de um <br>filme mas, caso mais drástico, de um cineasta de vanguarda, por Francisco <br>
Ferreira, não só «crítico de cinema» mas, mais do que isso, coordenador da <br>
página de cinema do destacável cultural do «Expresso»:<br><br>«Tudo o que está em causa neste filme relaciona-se com o que é intolerável <br>na imagem - e a verdadeira discussão não pode deixar de passar por aqui. Mas <br>

aquilo que de mais penoso se vê em &quot;Anti-Christ - Anticristo&quot;, que traz selo <br>de dedicação a Tarkovski numa afronta injusta e ignóbil, nem merece ser <br>nomeado. Seria dar atenção a um cineasta que, de tanto querê-la já provou <br>

estar disposto a tratar a espécie humana como os nazis a trataram em <br>Auschwitz. De resto - já o escrevemos há mais de dez anos, numa altura em <br>que o dinamarquês e o seu &quot;manifesto Dogma&quot; eram transformados pela crítica <br>

em coqueluche europeia -, Trier é muito menos um cineasta do que um caso <br>clínico de psiquiatria. Voltamos ao intolerável: que imagens são aquelas, ao <br>ponto de parecer que o filme só existe para elas&#39; A quem se destina aquele <br>

espectáculo insuportável, a que representação da realidade, a que política, <br>com que objectivo que não seja o do escândalo?&quot; F.F.<br><br>Como se vê, F.F. é um«críitico» intolerante, narcisista, pretencioso e <br>
autoritário. Ele é que sabe dizer o que é «tudo o que está em causa neste <br>
filme» e impor qual é a «verdadeira discussão» que «não pode deixar de <br>passar por aqui», por onde ele pretende que passe. Ele é que define o que é <br>uma «afronta injusta e ignóbil a Tarkovski». Ele é que já denunciou, «há <br>

mais de dez anos» o cineasta como «um caso clínico de psiquiatria» e agora <br>se vem gabar da sua superioridade na antecipação de evidências deste <br>calibre. F.F. inova e antecipa tempos vindouros. Temos uma nova função para <br>

a elite da crítica de cinema: fazer diagnósticos psiquiátricos, mandar <br>internar os casos clínicos (e aqui identifica-se com o psiquiatra do filme, <br>que afundada a mãe deprimida numa «cura do sono» por tempo indefinido) e <br>

promover filmes normalizados, ao serviço de realidades e políticas que <br>aprove e isentos de «escândalo» (como a Inquisição realizou durante séculos, <br>em Portugal com o sucesso e conivência que se conhece).<br><br>Acusando Lars von Trier de ser um cineasta (ou menos que isso, como vimos) <br>

que «já provou estar disposto a tratar a espécie humana como os nazis a <br>trataram em Auschwitz», F.F. acusa sem provar o que quer que seja, não dá um <br>único exemplo, uma qualquer referência ou argumento, para além da sua <br>

evidência de Normopata que pretende eliminar o que, para a sua intolerância <br>emocionada (e mais em geral, para a dos normopatas para cuja cumplicidade <br>pisca o olho, já que sabe que, por definição, apela para a maioria dos <br>

espectadores) é «penoso» , «insuportável» e «intolerável na imagem» que <br>provoca o (seu) «escândalo». Como sempre, a abundância de adjectivos <br>punitivos mostra a carência de substância das atribuições.<br><br>A acusação de «caso clínico de psiquiatria» tem sido historicamente usada <br>

pelos poderes quando se querem ver livres de «dissidentes» de uma <br>qualquer «normalidade» que se deseja impor com recurso ao senso comum, ao <br>partido ou à polícia política. Não se trata apenas de um filmicídio mas de <br>

um cineasticídio. Se dessem ouvidos na Europa a F.F. (que não parte, que se <br>saiba, de qualquer competência na área do diagnóstico clínico), Lars von <br>Trier teria sido impedido de continuar a filmar e seria internado à força <br>

num hospital psiquiátrico.<br><br>Apelando para uma normose colectiva, F.F apenas pretende rasurar e <br>apagar «certas» imagens «intoleráveis», mutilar um filme e calar um <br>cineasta. Percebe-se bem o seu inconsciente ansioso, uma vez que o Anti-<br>

Cristo expõe a ansiedade e a vontade de mutilar e de matar que se move nos <br>subterrâneos da «normalidade amorosa», o que o põe fora de si. Teria <br>certamente sucesso no Estado Novo, actuando como um Bufo deste «crime» que <br>

pretende delatar ou como um Censor de lápis azul.<br><br>Como censor, F.F. não diz de que fala, a que imagens e escândalo se refere.<br>Claro que o Anti-Christo é um filme para adultos que não chamam «escândalo» <br>a realidades, fantasias, ideologias históricas e fantasmas que adultos <br>

conhecem e não varrem para baixo do sofá, por mais desagradáveis que sejam. <br>O recalcamento, a escotomização e a racionalização não melhoram o mundo, <br>apenas o oprimem e reprimem.<br><br>Face a uma alegoria, F.F. quereria uma «representação da realidade» <br>

normótica ou meramente sociológica, como no «Laço Branco», a que dá «quatro <br>estrelas»?<br><br>Face à apresentação das contradições antropológicas da modernidade tardia <br>(pensada à maneira de Giddens), em que o cognitivismo behaviorista do marido <br>

psicoterapêuta interrompe o sono farmacológico do psiquiatra organicista <br>para continuadamente recalcar a análise freudiana da vida onírica, que a <br>mulher desejaria, mas que psiquiatras e cognitivistas pós-modernos enviaram <br>

para o Inferno da sua Ciência repressiva, F.F. diz nada, uma vez que ou não <br>percebe a questão ou está do lado dominante da nova modernidade.<br><br>Face à articulação do ginocídio inquisitorial com a tortura do erotismo <br>

conjugal, uma vez desarticulada a sua superfície aparentemente «normal» e <br>provocada a regressão para as suas dimensões «diabólicas», num mundo que se <br>quer regularizar e normalizar como secular e feminista, livre das «trevas» <br>

do paganismo, do clericalismo e do analfabetismo, expondo a evidência <br>vexatória de que o «progreso civilizacional» não é uma função do progresso <br>tecnológico e continua a rebentar no subsolo da guerra dos sexos, a que <br>

Ibsen e Bergman não viraram a cara, F.F. diz nada. A sua capacidade <br>analítica é tão escassa quanto grandiosa é a sua oratória condenatória, que <br>nenhum Grande Inquisidor se esqueceria de aplaudir.<br><br>Face à exposição à regressão para a alucinação, num mundo emocionalmente <br>

insuportado, e face ao concomitante deslizar do erotismo amoroso para o <br>sadomasoquismo e para o comportamento psicopático na micro-escala da <br>intimidade e sociopático na macro-escala das ideologias, F.F. prescreve o <br>

internamento hospitalar das «excepções», visto desconhecer estas realidades <br>quotidianas, no fantasma e na acção sociopática. Em vez de dialogar, <br>analisar e problematizar, diagnostica e elimina como pode do seu pequeno <br>

mundo cinéfilo aquilo que manifestamente o ultrapassa a ele, uma autoridade <br>na matéria.<br><br>Sintetizando, F.F. deixa a nu como a exposição fílmica das dimensões mais <br>extremadas da guerra dos sexos pode levar à exposição jornalística da guerra <br>

dos cineastas e da guerra dos críticos de cinema. E mostra bem como o apelo <br>desesperado às maiorias morais, normalizadoras e normalizadas, por parte de <br>um crítico normótico, recorre sem pejo às ferramentas sociopáticas da <br>

tentativa de liquidação soft de um cineasta que vê o mundo vivido como <br>dramático e problemático, para se salientar numa corte de aparências que <br>optou jornalisticamente pela «cultura Avatar». JGP Bastos<br>--------------------------------<br>

<font color="#888888"><br>Diniz Cayolla Ribeiro<br><a href="mailto:dinizchess@gmail.com" target="_blank">dinizchess@gmail.com</a><br><a href="http://web.me.com/machess/Conversas_freudianas/Podcast/Podcast.html" target="_blank">http://web.me.com/machess/Conversas_freudianas/Podcast/Podcast.html</a><br>

<br><font size="3"><span style="font-size:12px"><span style="font-size:medium"><br></span></span></font><div><span style="border-collapse:separate;color:rgb(0, 0, 0);font-family:Helvetica;font-size:12px;font-style:normal;font-variant:normal;font-weight:normal;letter-spacing:normal;line-height:normal;text-align:auto;text-indent:0px;text-transform:none;white-space:normal;word-spacing:0px"><span style="border-collapse:separate;color:rgb(0, 0, 0);font-family:Helvetica;font-size:12px;font-style:normal;font-variant:normal;font-weight:normal;letter-spacing:normal;line-height:normal;text-indent:0px;text-transform:none;white-space:normal;word-spacing:0px"><div style="word-wrap:break-word">

<br></div></span><br></span><br>
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<br></font></div><br>_______________________________________________<br>
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