<html><head></head><body style="word-wrap: break-word; -webkit-nbsp-mode: space; -webkit-line-break: after-white-space; ">Caros membros do Arena<br><br>Gravámos esta noite uma nova conversa freudiana (<a href="http://web.me.com/machess/Conversas_freudianas/Podcast/Podcast.html">http://web.me.com/machess/Conversas_freudianas/Podcast/Podcast.html</a>) a propósito do sonho e de tudo o que isto implica em termos freudianos.<br>Por outro lado, o Zé Gabriel escreveu nas "Conversas Freudianas" do Facebook um comentário à crítica que Francisco Ferreira publicou no Expresso a propósito do filme "Antichrist" de Lars von Trier. Para aqueles que não têm Facebook, e eventualmente estejam interessados nesta discussão, coloco aqui o dito comentário. E ficamos evidentemente à espera que o citado crítico exerça o seu direito de resposta.<br>----------------------------<br><br>«De como a seriedade de um filme como o Anti-Christo deixa a nu as&nbsp;<br>insuficiências da crítica normótica»<br><br>Como sempre que um mesmo estímulo promove uma extrema diversidade de&nbsp;<br>respostas, isso permite evidenciar as limitações e as fundações ideológicas&nbsp;<br>daqueles que reajem. Permite, também, criar um ranking e uma tipologia&nbsp;<br>dessas reacções, com ganhos antropológicos, teóricos e práticos, evidentes.<br><br>No caso do Anti-Christo, de Lars von Trier, temos, em Lisboa:<br><br>Francisco Ferreira (Expresso) - uma bola negra (negativo)<br>Mário J. Torres (Público) - uma bola negra (negativo)<br><br>Jorge Mourinha (Púlico) - uma positiva em cinco (sofrível)<br>Luis M. Oliveira (Público) - uma positiva em cinco (sofrível)<br>Vasco Câmara (Público) - uma positiva em cinco (sofrível)<br>V. Baptista Marques (Expresso) - uma positiva em cinco (sofrível)<br><br>J.Leitão Ramos - (Expresso) - quatro em cinco (muito bom)<br><br>Será difícil encontrar um exemplo de maior diversidade avaliativa, para um&nbsp;<br>filme que o seu autor, repetidamente premiado, considerou o seu melhor filme.<br><br>Trata-se de um caso exemplar de filmicídio pela «crítica». Vimos, em tempos,&nbsp;<br>tentativas ideológicas equivalentes, do salazarismo ao comunismo, à Igreja&nbsp;<br>Católica e ao Islão, mas o que interessa aqui é a tentativa de liquidação de&nbsp;<br>um filme «fora de série» por quem não fez nenhum e se propõe formar a&nbsp;<br>a «opinião pública». Para um filme que não alinha no entretenimento, na&nbsp;<br>onirização «avatariana» ou no «realismo histórico exemplarista»&nbsp;<br>de «Invictus», esta avaliação promove salas vazias e orienta para uma&nbsp;<br>retirada precoce de exibição. As grandes distribuidoras só têm a agradecer.<br><br>A tipologia que proponho distingue entre «críticos de cinema» (aqui, apenas&nbsp;<br>um caso, o de J. Leitão Ramos) e «colunistas sociofílicos», em busca de um&nbsp;<br>alinhamento popular de sucesso fácil, promotores da produção de um «senso&nbsp;<br>comum» mediano, alinhado por baixo, que a «índústria» por certo agradece.<br><br>Nos colunistas sociofílicos, apenas há dois graus - o menos um e o mais um:&nbsp;<br>os «rejeitantes drásticos» e os «rejeitantes moderados».<br><br>O vazio entre estes e o «mais 4» (filmofílico prudente»), deixando vazias as&nbsp;<br>casas intermédias da grelha classificatória, mostra a seriedade de um filme&nbsp;<br>capaz de «separar as águas» entre quem usa o cinema para ganhar a vida e&nbsp;<br>quem serve o cinema como projecto antropológico arriscado.<br><br>Vejamos a «justificação» desta tentativa de liquidação não apenas de um&nbsp;<br>filme mas, caso mais drástico, de um cineasta de vanguarda, por Francisco&nbsp;<br>Ferreira, não só «crítico de cinema» mas, mais do que isso, coordenador da&nbsp;<br>página de cinema do destacável cultural do «Expresso»:<br><br>«Tudo o que está em causa neste filme relaciona-se com o que é intolerável&nbsp;<br>na imagem - e a verdadeira discussão não pode deixar de passar por aqui. Mas&nbsp;<br>aquilo que de mais penoso se vê em "Anti-Christ - Anticristo", que traz selo&nbsp;<br>de dedicação a Tarkovski numa afronta injusta e ignóbil, nem merece ser&nbsp;<br>nomeado. Seria dar atenção a um cineasta que, de tanto querê-la já provou&nbsp;<br>estar disposto a tratar a espécie humana como os nazis a trataram em&nbsp;<br>Auschwitz. De resto - já o escrevemos há mais de dez anos, numa altura em&nbsp;<br>que o dinamarquês e o seu "manifesto Dogma" eram transformados pela crítica&nbsp;<br>em coqueluche europeia -, Trier é muito menos um cineasta do que um caso&nbsp;<br>clínico de psiquiatria. Voltamos ao intolerável: que imagens são aquelas, ao&nbsp;<br>ponto de parecer que o filme só existe para elas' A quem se destina aquele&nbsp;<br>espectáculo insuportável, a que representação da realidade, a que política,&nbsp;<br>com que objectivo que não seja o do escândalo?" F.F.<br><br>Como se vê, F.F. é um«críitico» intolerante, narcisista, pretencioso e&nbsp;<br>autoritário. Ele é que sabe dizer o que é «tudo o que está em causa neste&nbsp;<br>filme» e impor qual é a «verdadeira discussão» que «não pode deixar de&nbsp;<br>passar por aqui», por onde ele pretende que passe. Ele é que define o que é&nbsp;<br>uma «afronta injusta e ignóbil a Tarkovski». Ele é que já denunciou, «há&nbsp;<br>mais de dez anos» o cineasta como «um caso clínico de psiquiatria» e agora&nbsp;<br>se vem gabar da sua superioridade na antecipação de evidências deste&nbsp;<br>calibre. F.F. inova e antecipa tempos vindouros. Temos uma nova função para&nbsp;<br>a elite da crítica de cinema: fazer diagnósticos psiquiátricos, mandar&nbsp;<br>internar os casos clínicos (e aqui identifica-se com o psiquiatra do filme,&nbsp;<br>que afundada a mãe deprimida numa «cura do sono» por tempo indefinido) e&nbsp;<br>promover filmes normalizados, ao serviço de realidades e políticas que&nbsp;<br>aprove e isentos de «escândalo» (como a Inquisição realizou durante séculos,&nbsp;<br>em Portugal com o sucesso e conivência que se conhece).<br><br>Acusando Lars von Trier de ser um cineasta (ou menos que isso, como vimos)&nbsp;<br>que «já provou estar disposto a tratar a espécie humana como os nazis a&nbsp;<br>trataram em Auschwitz», F.F. acusa sem provar o que quer que seja, não dá um&nbsp;<br>único exemplo, uma qualquer referência ou argumento, para além da sua&nbsp;<br>evidência de Normopata que pretende eliminar o que, para a sua intolerância&nbsp;<br>emocionada (e mais em geral, para a dos normopatas para cuja cumplicidade&nbsp;<br>pisca o olho, já que sabe que, por definição, apela para a maioria dos&nbsp;<br>espectadores) é «penoso» , «insuportável» e «intolerável na imagem» que&nbsp;<br>provoca o (seu) «escândalo». Como sempre, a abundância de adjectivos&nbsp;<br>punitivos mostra a carência de substância das atribuições.<br><br>A acusação de «caso clínico de psiquiatria» tem sido historicamente usada&nbsp;<br>pelos poderes quando se querem ver livres de «dissidentes» de uma&nbsp;<br>qualquer «normalidade» que se deseja impor com recurso ao senso comum, ao&nbsp;<br>partido ou à polícia política. Não se trata apenas de um filmicídio mas de&nbsp;<br>um cineasticídio. Se dessem ouvidos na Europa a F.F. (que não parte, que se&nbsp;<br>saiba, de qualquer competência na área do diagnóstico clínico), Lars von&nbsp;<br>Trier teria sido impedido de continuar a filmar e seria internado à força&nbsp;<br>num hospital psiquiátrico.<br><br>Apelando para uma normose colectiva, F.F apenas pretende rasurar e&nbsp;<br>apagar «certas» imagens «intoleráveis», mutilar um filme e calar um&nbsp;<br>cineasta. Percebe-se bem o seu inconsciente ansioso, uma vez que o Anti-<br>Cristo expõe a ansiedade e a vontade de mutilar e de matar que se move nos&nbsp;<br>subterrâneos da «normalidade amorosa», o que o põe fora de si. Teria&nbsp;<br>certamente sucesso no Estado Novo, actuando como um Bufo deste «crime» que&nbsp;<br>pretende delatar ou como um Censor de lápis azul.<br><br>Como censor, F.F. não diz de que fala, a que imagens e escândalo se refere.<br>Claro que o Anti-Christo é um filme para adultos que não chamam «escândalo»&nbsp;<br>a realidades, fantasias, ideologias históricas e fantasmas que adultos&nbsp;<br>conhecem e não varrem para baixo do sofá, por mais desagradáveis que sejam.&nbsp;<br>O recalcamento, a escotomização e a racionalização não melhoram o mundo,&nbsp;<br>apenas o oprimem e reprimem.<br><br>Face a uma alegoria, F.F. quereria uma «representação da realidade»&nbsp;<br>normótica ou meramente sociológica, como no «Laço Branco», a que dá «quatro&nbsp;<br>estrelas»?<br><br>Face à apresentação das contradições antropológicas da modernidade tardia&nbsp;<br>(pensada à maneira de Giddens), em que o cognitivismo behaviorista do marido&nbsp;<br>psicoterapêuta interrompe o sono farmacológico do psiquiatra organicista&nbsp;<br>para continuadamente recalcar a análise freudiana da vida onírica, que a&nbsp;<br>mulher desejaria, mas que psiquiatras e cognitivistas pós-modernos enviaram&nbsp;<br>para o Inferno da sua Ciência repressiva, F.F. diz nada, uma vez que ou não&nbsp;<br>percebe a questão ou está do lado dominante da nova modernidade.<br><br>Face à articulação do ginocídio inquisitorial com a tortura do erotismo&nbsp;<br>conjugal, uma vez desarticulada a sua superfície aparentemente «normal» e&nbsp;<br>provocada a regressão para as suas dimensões «diabólicas», num mundo que se&nbsp;<br>quer regularizar e normalizar como secular e feminista, livre das «trevas»&nbsp;<br>do paganismo, do clericalismo e do analfabetismo, expondo a evidência&nbsp;<br>vexatória de que o «progreso civilizacional» não é uma função do progresso&nbsp;<br>tecnológico e continua a rebentar no subsolo da guerra dos sexos, a que&nbsp;<br>Ibsen e Bergman não viraram a cara, F.F. diz nada. A sua capacidade&nbsp;<br>analítica é tão escassa quanto grandiosa é a sua oratória condenatória, que&nbsp;<br>nenhum Grande Inquisidor se esqueceria de aplaudir.<br><br>Face à exposição à regressão para a alucinação, num mundo emocionalmente&nbsp;<br>insuportado, e face ao concomitante deslizar do erotismo amoroso para o&nbsp;<br>sadomasoquismo e para o comportamento psicopático na micro-escala da&nbsp;<br>intimidade e sociopático na macro-escala das ideologias, F.F. prescreve o&nbsp;<br>internamento hospitalar das «excepções», visto desconhecer estas realidades&nbsp;<br>quotidianas, no fantasma e na acção sociopática. Em vez de dialogar,&nbsp;<br>analisar e problematizar, diagnostica e elimina como pode do seu pequeno&nbsp;<br>mundo cinéfilo aquilo que manifestamente o ultrapassa a ele, uma autoridade&nbsp;<br>na matéria.<br><br>Sintetizando, F.F. deixa a nu como a exposição fílmica das dimensões mais&nbsp;<br>extremadas da guerra dos sexos pode levar à exposição jornalística da guerra&nbsp;<br>dos cineastas e da guerra dos críticos de cinema. E mostra bem como o apelo&nbsp;<br>desesperado às maiorias morais, normalizadoras e normalizadas, por parte de&nbsp;<br>um crítico normótico, recorre sem pejo às ferramentas sociopáticas da&nbsp;<br>tentativa de liquidação soft de um cineasta que vê o mundo vivido como&nbsp;<br>dramático e problemático, para se salientar numa corte de aparências que&nbsp;<br>optou jornalisticamente pela «cultura Avatar». JGP Bastos<br>--------------------------------<br><br>Diniz Cayolla Ribeiro<br><a href="mailto:dinizchess@gmail.com">dinizchess@gmail.com</a><br><a href="http://web.me.com/machess/Conversas_freudianas/Podcast/Podcast.html">http://web.me.com/machess/Conversas_freudianas/Podcast/Podcast.html</a><br><br><font class="Apple-style-span" size="3"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 12px;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"><br></span></span></font><div><span class="Apple-style-span" style="border-collapse: separate; color: rgb(0, 0, 0); font-family: Helvetica; font-size: 12px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: normal; orphans: 2; text-align: auto; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px; -webkit-border-horizontal-spacing: 0px; -webkit-border-vertical-spacing: 0px; -webkit-text-decorations-in-effect: none; -webkit-text-size-adjust: auto; -webkit-text-stroke-width: 0; "><span class="Apple-style-span" style="border-collapse: separate; color: rgb(0, 0, 0); font-family: Helvetica; font-size: 12px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: normal; orphans: 2; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px; -webkit-border-horizontal-spacing: 0px; -webkit-border-vertical-spacing: 0px; -webkit-text-decorations-in-effect: none; -webkit-text-size-adjust: auto; -webkit-text-stroke-width: 0px; "><div style="word-wrap: break-word; -webkit-nbsp-mode: space; -webkit-line-break: after-white-space; "><br></div></span><br class="Apple-interchange-newline"></span><br class="Apple-interchange-newline">
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