[ARENA] RITA MAGALHÃES | Espelho Negro | Galeria Pedro Oliveira | Inauguração Sábado 7 Fevereiro 2015 _ 16h00

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Quarta-Feira, 4 de Fevereiro de 2015 - 12:25:47 WET


Galeria Pedro Oliveira

 

Próxima inauguração _ Sábado 7 Fevereiro . 16h00

 

RITA MAGALHÃES

Espelho Negro

 




 

 

 

A fonte do puro olhar

 

A fotografia de Rita Magalhães foi, desde o seu início há quase duas
décadas, percorrida por um intenso, desmedido desejo de pintura. Como se a
artista compreendesse que, desde sempre, a memória da pintura enquanto
tradição de produzir imagens inevitavelmente habitou a fotografia qual cena
primitiva. E como se, através desta última, ela procurasse constantemente
voltar sobre essa cena primeira, fundadora, original e originária. 
Nesse sentido se poderia afirmar que o olhar da Rita é como o de Ulisses. É
um olhar que incessantemente ali regressa, e a si regressa, como se essa
fosse a fonte verdadeira de todo o olhar que foi, é e será. Procurando
reconhecer o que apenas se entreviu, uma vez apenas, talvez, ou então o que
tão-só se imaginou e sonhou ver-se. O que abre para o campo do que desejou
ver-se.  
Esse é, também, o olhar da pintura. Um misterioso olhar que cria mundos, que
descerra, desenha, apaga ou reinventa o próprio mundo, não tanto como ele é
mas como poderia ser. Porque a pintura é já forma de um desejo de mundo
antes mesmo de representar qualquer lugar ou forma havida do mundo
ele-mesmo. Por isso Merleau-Ponti pôde falar do que falta ao mundo para ser
quadro.
Assim, este olhar da artista vai percorrendo o mundo, vendo à sua volta,
curioso como o da criança procurando em cada coisa o seu sinal mais secreto,
a porta que aos poucos se descerra, o aviso discreto de que algo se aproxima
e se divisa ao longe, ao mesmo tempo terno e violento, como no entreabrir
das pálpebras depois do sonho, porém ainda antes do acordar. Mas algo que
também jamais se poderá captar, pois que se captado para sempre também se
perderia. 
Um olhar todo nascido no silêncio, como se espera sempre do olhar próprio da
contemplação, ao mesmo tempo distraído e atento, curioso e indiferente,
interior e exterior, película finíssima entre os dois. O que ele capta,
então, não são as coisas tal como as vemos, nem as imagens das coisas que
nos despertam para elas mas em seu lugar o antes e o depois de elas já
serem, ou terem sido. O que fica no meio e as surpreende no caminho de
serem. 
Um olhar assim quase não se vê, ninguém dá por ele. Nem quando se projecta,
como aqui, subitamente esclarecendo um outro sentido para as imagens. Passa
silencioso entre as coisas e mal poisa nelas, quase não as toca, apenas lhes
sente a presença e a surpreende, tornando-a táctil, visível, sob uma luz
esparsa que revela tanto quanto esconde. Um olhar assim devolve às coisas o
seu mistério, não as quer desenhadas e nítidas, ou abstractas, mas antes
cheias de símbolo e distância, operando como agentes de metamorfose.
Transfigura. 
Por isso as cidades que ele vê têm distâncias, luzes, poeira de oiro, uma
bruma que dissolve os contornos das coisas como a humidade que sobe do mar
ou do rio, e que parece transfigurá-las como se sob a luz vaga de alguma
aparição. As cidades fundem-se, alucinatórias quase liquefazem-se, as suas
personagens são líquidas e atravessam-nas como se perdessem nelas a forma da
inteireza. E a própria luz é um manto que se estende sob o olhar. Não há
contornos mas cores, manchas, surdas reverberações de luz e de atmosfera sob
um enigmático prisma. As próprias cores se diluem umas nas outras, como na
pintura de Ensor ou de Hammershoi e de António Carneiro que quis ver na
diluição o caminho mais aberto que a luz pede para entrar na pintura e a
devorar em incêndios.
Depois das series que dedicou a Vermeer ou Caravaggio, Ingres ou Délacroix,
não surpreende agora que a artista queira mergulhar nesses abismos
simbolistas para onde a chama o seu temperamento sonhador de pintora que
pinta com a fotografia. E que a entende como uma continuidade natural ainda
que mecânica dessa tradição de olhares que porventura nasceu no mito Grego
daquela jovem que desenhou sobre a sombra do amado que partia para a guerra
o seu retrato.
Não interessa pois aqui se são cidades, transportes de imagens captadas em
algum exterior, sombras de muros, pedras e clarões de céu, ou paisagens que
evocam as de Barbizon, já que estas imagens o que fixam é um modo de olhar.
Que se afina e vai cada vez mais longe na sua perseguição consciente de
alguma coisa a que só pelo olhar se chega. A via estreita e misteriosa de
uma outra forma de relação com o mundo. Um sentimento do mundo e do tempo,
isto é a percepção de uma temporalidade outra que persiste nas coisas como
um eco muito depois de as percorrermos com o ver. Tal é a natureza
misteriosa e fugaz do olhar a que só a pintura pode dar uma dimensão
concreta e visível. Sem a pintura jamais saberíamos de que é feito o olhar.
E na era da fotografia, Rita Magalhães pinta com as suas fotografias sem ver
nisso qualquer problema, bem pelo contrário, já que num plano mais íntimo,
que é o da imagem, nada diferencia a pintura da fotografia, antes uma ecoa
na outra.
Porque a pintura nasce dessa vontade, desse desejo de fixar não as coisas ou
a sua imagem mas tão só a impressão das coisas e do mundo, dos seres e das
atmosferas, o modo como elas afectam o olhar. 
A pintura é um olhar, muito mais do que uma técnica. É o olhar que revela. O
olhar da sibila, o olhar que regressa e a si regressa, porque onde quer que
poise abre uma pátria. A pátria inesperada mas todavia sempre à nossa espera
onde se aloja a fonte do puro olhar.

Bernardo Pinto de Almeida (Janeiro 2015)


Inauguração 07 Fevereiro . 16h
10 Fevereiro > 21 Março 2015                   
Terça - Sábado 15-20h

Para imagens ou mais informações contacte Nuno Lapa através dos contactos da
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