[ARENA] António Costa e a crise portuguesa

Luís Ribeiro luis_f_ribeiro hotmail.com
Segunda-Feira, 28 de Janeiro de 2013 - 23:11:01 WET


Olá a todos,
não é que apoie algum partido, mas acho que merece ser partilhado este texto do António Costa.
Abraço
LR

"Tenho uma triste notícia para dar aos comentadores e analistas políticos:
 Podem todos passar a dedicar-se à agricultura, porque António Costa, em menos de 3 minutos, disse tudo, na "quadratura do círculo".
 E aqui está textualmente o que ele disse (transcrito manualmente):

 “A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União 
Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de 
produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também 
na indústria, por ex. no têxtil. Nós fomos financiados para desmantelar o
 têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a 
Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês 
basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam
 os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós 
deixávamos de produzir. E portanto, esta ideia de que em Portugal houve 
aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não 
trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira 
inaceitável. Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados 
em função das opções da União Europeia: em função dos fundos 
comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do 
crédito que foi proporcionado. E portanto, houve um comportamento 
racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela 
União Europeia. Portanto não é aceitável agora dizer… podemos todos 
concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito 
que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi um 
erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção 
porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua 
própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é isso que 
estamos a pagar!
 A ideia de que os portugueses são responsáveis pela
 crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um 
enorme embuste. Esta mentira só é ultrapassada por uma outra. A de que 
não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, 
face a hábitos de consumo exagerados. Colossais fraudes. Nem os 
portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável.
 Quem 
viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a 
classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é
 o orçamento do estado. A administração central e local enxameou-se de 
milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis, fundações 
fraudulentas e empresas municipais fantasma. A este regabofe juntou-se 
uma epidemia fatal que é a corrupção. Os exemplos sucederam-se. A Expo 
98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias 
urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 
2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção 
provada, mas só na Alemanha. E foram as vigarices de Isaltino Morais, 
que nunca mais é preso. A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e
 do BPP, as parcerias público-privadas 16 e mais um rol interminável de 
crimes que depauperaram o erário público. Todos estes negócios e 
privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se 
alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos. E têm como 
consequência os sacrifícios por que hoje passamos.
 Enquanto isto, os
 portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não 
acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter 
remorsos pelo estado das contas públicas. Devemos antes exigir a 
eliminação dos privilégios que nos arruínam. Há que renegociar as 
parcerias público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir
 organismos... Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão 
milhões. Sem penalizar os cidadãos.
 Não é, assim, culpando e 
castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a 
crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção. 
Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem 
condenar e ao assalto fiscal que se anuncia."

António Costa 
 		 	   		  
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