[ARENA] Diz Badiou e Rancière, entre outros: "De nossa parte, eis o que propomos: formar rapidamente um comité europeu de intelectuais e artistas pela solidariedade com o povo grego que resiste. Se não formos nós, quem será? Se não for agora, ser

Dinis Santos dinismanueld gmail.com
Segunda-Feira, 27 de Fevereiro de 2012 - 23:09:57 WET


http://assembleia-popular-do-porto.blogspot.com/  -  a assembleia popular
do porto tem feito a sua parte. Mas nesta assembleia faltam vozes...

2012/2/27 Fernando José Pereira <fjp  virose.pt>

>  Olá a todos
>
> Partilho aqui convosco um manifesto que dá que pensar. Depois de ter
> estado presente numa acção de rua de solidariedade com os gregos (a semana
> passada na Praça da Batalha) vim muito triste e frustrado com a falta de
> empenhamento com um assunto que também é nosso: é que não estavam mais de
> 20 pessoas. Este grupo já está em campo…
> abraçoFJP
>
>
>
> Num momento em que um em cada dois jovens gregos está desempregado, onde
> 25 000 sem-abrigo vagueiam pelas ruas de Atenas, onde 30% da população
> desceu abaixo da linha de pobreza, onde milhares de famílias são forçadas a
> dar os seus filhos para que estes não morram de fome e frio, onde novos
> pobres e refugiados disputam o lixo nos aterros sanitários, os “salvadores”
> da Grécia, sob o pretexto de que os “Gregos” não fazem um “esforço
> suficiente” impõem um novo plano de ajuda que duplica a dose letal
> administrada. Um plano que elimina o direito ao trabalho, e que reduz os
> pobres à miséria extrema, tudo isto fazendo desaparecer do cenário as
> classes médias.
>
> O objetivo não deve ser o "resgate" da Grécia: sobre este ponto, todos os
> economistas dignos desse nome estão de acordo. Trata-se de ganhar tempo
> para salvar os credores conduzindo o país a uma falência em diferido.
> Trata-se sobretudo de fazer da Grécia um laboratório de mudança social que,
> num segundo momento, se generalizará a toda a Europa. O modelo
> experimentado nos Gregos é o de uma sociedade sem serviços públicos, onde
> as escolas, hospitais e centros de saúde caem em ruína, onde a saúde passa
> a ser um privilégio dos ricos, onde as populações vulneráveis são
> condenadas a uma eliminação programada, enquanto que aqueles que ainda
> trabalham são condenados a formas extremas de empobrecimento e precariedade.
>
> Mas para que esta ofensiva do neo-liberalismo possa alcançar os seus
> objetivos, será necessário instaurar um regime que faça a economia dos
> direitos democráticos mais elementares. Sob a exigência dos salvadores,
> vemos instalar-se na Europa um governo de tecnocratas que desrespeita a
> soberania popular. Trata-se de um momento de viragem nos regimes
> parlamentares, onde vemos os "representantes do povo" dar carta branca aos
> especialistas e aos banqueiros, abdicando do seu suposto poder de decisão.
> De uma certa forma, trata-se de um golpe de Estado, que faz também apelo a
> um arsenal repressivo amplificado face aos protestos populares. Assim,
> quando os membros ratificaram a convenção ditada pela troika (União
> Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional),
> diametralmente oposta ao mandato que estes tinham recebido, um poder
> desprovido de legitimidade democrática terá comprometido o futuro do país
> por trinta ou quarenta anos.
>
> Paralelamente, a União Europeia prepara-se para constituir uma conta
> bloqueada para onde será transferida diretamente a ajuda financeira à
> Grécia, para que esta seja usada unicamente ao serviço da dívida. As
> receitas do país devem ser consagradas como “prioridade absoluta” ao
> reembolso dos credores e, se necessário, pagas diretamente nessa conta
> criada pela União Europeia. A convenção estipula que todas as novas
> obrigações emitidas dentro deste quadro serão regidas pela lei inglesa, que
> envolve garantias materiais, enquanto que os diferendos serão julgados pelo
> tribunal do Luxemburgo, tendo a Grécia renunciado à partida qualquer
> direito de recurso contra uma tomada determinada pelos seus credores. Para
> completar o cenário, as privatizações serão confiadas a um fundo gerado
> pela troika, onde serão depositados os títulos de propriedade dos bens
> públicos. Em suma, é a pilhagem generalizada, característica própria do
> capitalismo financeiro que oferece aqui uma bela consagração institucional.
> Na medida em que vendedores e compradores se sentarão no mesmo lado da
> mesa, não duvidamos que esta tarefa de privatização seja um verdadeiro
> festim para os compradores.
>
> Todas as medidas tomadas até agora não fizeram mais do que afundar a
> dívida soberana grega e, com o auxílio dos salvadores que emprestam a taxas
> exorbitantes, esta, literalmente, explodiu aproximando-se dos 170% de um
> PIB em queda livre, enquanto que em 2009 representava somente 120%. É
> provável que este grupo de resgate – sempre apresentado como “final” – não
> tenha outro propósito que o de enfraquecer ainda mais a posição da Grécia,
> de forma a que, privada de toda a possibilidade de propor ela mesma termos
> de uma reestruturação, seja reduzida a ceder tudo aos seus credores sob a
> chantagem de “a catástrofe ou a austeridade”.
>
> O agravamento artificial e coercivo do problema da dívida foi utilizado
> como uma arma para tomar de assalto uma sociedade inteira. É com sabedoria
> que usamos aqui termos relevantes do domínio militar: trata-se de facto de
> uma guerra conduzida pelos meios da finança, da política e do direito, uma
> guerra de classe contra a sociedade inteira. E o espólio que a classe
> financeira conta arrebatar ao “inimigo”, são os privilégios sociais e os
> direitos democráticos, mas em última análise, é a possibilidade mesma de
> uma vida humana. A vida daqueles que não produzem nem consomem o
> suficiente, ao olhar das estratégias de maximização de lucro, não devem ser
> conservadas. Assim, a fragilidade de um país apanhado entre a especulação
> sem limites e os planos de resgate devastadores, torna-se na porta de saída
> por onde irrompe um novo modelo de sociedade adequado às exigências do
> fundamentalismo neoliberal. Modelo destinado a toda a Europa, e talvez até
> mais. Esta é a verdadeira questão e é por isso que defender o povo grego
> não se reduz a um gesto de solidariedade ou de humanidade abstrata: o
> futuro da democracia e o destino dos povos europeus estão em questão. Por
> todo o lado a “necessidade imperiosa” de uma austeridade “dolorosa, mas
> salutar” vai nos ser apresentada como o meio de escapar ao destino grego,
> enquanto esta por aí avança sempre em frente.
>
> Perante este ataque persistente contra a sociedade, perante a destruição
> das últimas ilhotas da democracia, nós apelamos aos nossos concidadãos,
> nossos amigos franceses e europeus a exprimirem-se alto e forte. Não
> podemos deixar o monopólio da palavra aos especialistas e aos políticos. O
> facto de a pedido dos dirigentes alemães e franceses em particular a Grécia
> seja de agora em diante interdita de eleições pode deixar-nos indiferentes?
> A estigmatização e o denegrir sistemático de um povo europeu não merece uma
> resposta? Será possível não elevar a voz contra o assassinato institucional
> do povo grego? E poderemos nós permanecer silenciosos perante a instauração
> forçada de um sistema que proíbe a própria ideia de solidariedade social?
>
> Nós estamos no ponto de não retorno. É urgente lutar contra a batalha dos
> números e a guerra das palavras para conter a retórica ultra-liberal do
> medo e da desinformação. É urgente desconstruir as lições de moral que
> ocultam o processo real posto em prática na sociedade. Torna-se mais do que
> urgente desmistificar a insistência racista sobre a “especificidade grega”,
> que pretende fazer do suposto caráter nacional de um povo (preguiça e
> astúcia à vontade) a causa primeira de uma crise, na realidade, mundial. O
> que conta hoje não são as particularidades reais ou imaginárias, mas as
> comuns: o destino de um povo que afetará todos os outros.
>
> Muitas soluções técnicas têm sido propostas para sair da alternativa “ou a
> destruição da sociedade ou a falência” (que quer dizer, vemo-lo hoje: “e a
> destruição e a falência”). Tudo deve ser tido em conta como elemento de
> reflexão para a construção de uma outra Europa. Mas primeiro, é necessário
> denunciar o crime, trazer à luz do dia a situação onde se encontra o povo
> grego devido aos “planos de ajuda” concebidos por e para os especuladores e
> os credores. Num momento em que um movimento de apoio se tece em todo o
> mundo, onde as redes sociais emitem iniciativas de solidariedade, serão os
> inteletuais franceses os últimos a elevar a sua voz pela Grécia? Sem mais
> demora, vamos multiplicar os artigos, as intervenções nos media, os
> debates, as petições, as manifestações. Porque toda a iniciativa é
> bem-vinda, toda a iniciativa é urgente.
>
> De nossa parte, eis o que propomos: formar rapidamente um comité europeu
> de inteletuais e artistas pela solidariedade com o povo grego que resiste.
> Se não formos nós, quem será? Se não for agora, será quando?
>
> Vicky Skoumbi, editora chefe da revista «Alètheia», Athènes, Michel Surya,
> diretor da revista «Lignes», Paris, Dimitris Vergetis, diretor da revista
> «Alètheia», Athènes. E: Daniel Alvara, Alain Badiou, Jean-Christophe
> Bailly, Etienne Balibar, Fernanda Bernardo, Barbara Cassin, Bruno Clément,
> Danielle Cohen-Levinas, Yannick Courtel, Claire Denis, Georges
> Didi-Huberman, Roberto Esposito, Francesca Isidori, Pierre-Philippe Jandin,
> Jérôme Lèbre, Jean-Clet Martin, Jean-Luc Nancy, Jacques Rancière, Judith
> Revel, Elisabeth Rigal, Jacob Rogozinski, Hugo Santiago, Beppe Sebaste,
> Michèle Sinapi, Enzo Traverso.
>
> 22 de fevereiro de 2012.
>
> Tradução para português de Alexandra Balona de Sá Oliveira and Sofia
> Borges.
>
>
> _______________________________________________
> ARENA mailing list
> ARENA  lists.virose.pt
> http://lists.virose.pt/mailman/listinfo/arena_lists.virose.pt
>
>


-- 
Dinis Santos
====================
96 738 52 32
www.behance.net/dinissantos
http://vimeo.com/user707944/videos/all
dinismanueld  gmail.com
-------------- próxima parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://lists.virose.pt/pipermail/arena_lists.virose.pt/attachments/20120227/c189776d/attachment.html>


Mais informações acerca da lista ARENA