[ARENA] Elsevier Publishing Boycott

Ricardo Reis rreis aero.ist.utl.pt
Terça-Feira, 14 de Fevereiro de 2012 - 18:02:53 WET


Olá


On Mon, 13 Feb 2012, Diniz Cayolla Ribeiro wrote:

> 2 - Pois, boa questão. No campo das humanidades e ciências sociais 
> aplicam-se frequentemente critérios de qualidade científica 
> 'subjectivistas', que incluem fidedignidade, confiança e autenticidade 
> (depoimentos das partes interessadas subjectivas e possibilidade de 
> auditoria das provas). O objecto é outro, as técnicas também, o que 
> dificulta imenso a replicabilidade e/ou verificação. Passando para o 
> campo das artes, a questão torna-se ainda mais complexa. Penso que não 
> há dúvida nenhuma de que há produção de conhecimento, teorias, hipóteses 
> de trabalho, conceitos... Contudo, não me parece que a palavra ciência 
> seja a mais adequada. Daí que muitas vezes substitua a palavra 
> "científica" por "académica". Aceitam-se sugestões.

Pois, mas se não houver uma base onde se alicerce a discussão...

> 3 - Há muitas formas de se ser original na investigação académica. Não 
> me parece que faça sentido comparar a originalidade artística com a 
> 'científica'. São 'coisas' muito distintas. Um artista não precisa de um 
> Doutoramento para nada. Um artista que queria fazer carreira académica 
> e/ou investigação no campo da arte não precisa de ser original em termos 
> artísticos, apenas original e rigoroso em termos académicos.

Eu fiz o comentário porque subitamente me pareceu (não se estava a falar 
de ciência?) que essa comparação estava a ser feita. Que estava a ser 
pedido que, no âmbito cientifico, se desse uma importância sobremaneira à 
originalidade no sentido artistico e não cientifico. Posso ter percebido 
mal a discussão.

> 4 - Há muitas formas de financiamento. As conferências não foram 
> inventadas agora. Todos nós já participamos em dezenas de eventos deste 
> tipo ao longo da vida, pagando pequenas taxas ou sendo pago (ou não) 
> para apresentar comunicações. Para isso servem os financiamentos via 
> Institutos, Faculdades, patrocínios, taxas dos participantes que não vão 
> apresentar comunicações, etc.  A novidade está, penso eu, nas taxas 
> exageradas e no facto dos próprios conferencistas terem de pagar para 
> fazer as suas apresentações. Curiosamente, são eles as peças mais 
> importantes destes encontros. Sem comunicações não há conteúdos. E sem 
> conteúdos não faz sentido organizar encontros deste tipo. Assim, se é 
> preciso 'pastel' para "pagar o local, as pessoas de apoio, os papéis, as 
> impressões, o tempo despendido", talvez também faça sentido pagar aos 
> "produtores de conteúdos", certo? Por este andar, os professores ainda 
> vão ter de pagar para dar aulas. Ou os escritores terão de pagar para 
> publicar os livros, e os artistas para ver os seus trabalhos artísticos 
> expostos nos museus. Parece-me que está a ocorrer aqui uma enorme 
> perversão de todo o sistema. E está-se a confundir "alhos com bugalhos".

Tudo isso é correcto e há muitas perversões. Só digo que nem tanto à 
terra, nem tanto ao mar. Um exemplo gritante dos abusos foi a posição de 
muitos organizadores de conferência em aumentarem as taxas a candidatos de 
doutoramento após a FCT decidir dar, sem perguntar mais nada, o apoio de 
700 euros anuais para esse tipo de despesas (antigamente era preciso 
justificar o seu pedido com orçamentos e facturas)

> 5 - O inglês em si não é nenhum problema. O problema está relacionado 
> com os fenómenos de poder que lhe estão associados, bem como a questão 
> da hegemonia. Adiante. Também concordo que é uma solução prática. 
> Contudo, faz-me espécie que excelentes investigadores nacionais, com 
> dezenas de publicações em português, espanhol, francês, etc. (conheço 
> vários) sejam considerados "sem impacto" porque não publicam em inglês.

A mim faz-me espécie quando ouço investigadores de certas áreas dizerem 
que o que estudam só pode ser publicado em português porque é 
"intraduzível". Ie, quando se recusam a ser sujeitos à crítica dos seus 
pares lá fora. E essa atitude é, nas ciências sociais, ainda muito 
prevalente no nosso país. Depois há o caso dos que engordam currículos 
fazendo a auto-publicação... mas esse é um fenómeno que vai aumentar cada 
vez mais com acesso a Digital Printing on Demand.

> "quanto à Elsevier... há muitos outros (melhores) motivos para a boicotar." Quais? Podias ser mais preciso?

A questão do alorpamento aos direitos sobre os trabalhos (os direitos de 
autor) e as questões pouco claras, por exemplo, de fazerem jornais 
especiais patrocinados por empresas e com todo o aspecto de um jornal 
isento e cientifico, dispondo de peer-review (isto, em especial, na área 
da medicina e farmaceutica).

cmps,

  Ricardo Reis

  'Non Serviam'

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