[ARENA] Elsevier Publishing Boycott

Diniz Cayolla Ribeiro dinizcayolla gmail.com
Quarta-Feira, 8 de Fevereiro de 2012 - 22:40:39 WET


Caro André,
A lembrança do trabalho do Santiago Sierra deve ter a ver com o facto de ser freudiano. Acho que vou ter de pensar isto com a analista :)

Em relação ao debate propriamente dito, já todos percebemos que estão aqui a ser discutidas várias questões que vale a pena enumerar.
Em primeiro lugar, temos a questão do conhecimento científico, a forma como deve ser veiculado, se deve ser disponibilizado de forma totalmente gratuita ou através de um pequeno pagamento, se é legítimo os preços que as editoras cobram, etc. Este é o tema central do post que o Miguel lançou aqui, e estas são as questões que estão na origem do boicote à Elsevier.

Depois temos a questão do pagamento das publicações e das comunicações, que também está evidentemente relacionada com a mercantilização do conhecimento académico/científico, mas que levanta ainda outro tipo de problemas. São todas as questões que tu levantaste e bem, e que se prendem com o suposto "mérito" científico, intimamente relacionado com a capacidade económica de cada investigador, bem como com o aproveitamento que algumas empresas (com ou, supostamente, sem fins lucrativos) fazem da situação. Estou a pensar nas empresas que se constituíram especificamente para tratar destes assuntos, ou de outro tipo de 'empresas', que se especializaram no mercado da 'cultura', e que estão a tirar partido do sistema para se auto-finaciarem e poderem sobreviver. Não as censuro. O capital Social por si só não chega, e é necessário arranjar fontes de subsistência para pagar aos 'referees'; e todos nós sabemos como eles se fazem pagar caro. Para isso, cobram-se taxas a quem não faz parte do 'sistema', e explora-se os jovens alunos/investigadores, que precisam de fazer currriculum e até têm dinheiro para pagar. Foi especificamente em relação a estes casos que me lembrei do trabalho do Santiago Sierra.

Em terceiro lugar, temos a necessidade urgente de pensar em alternativas, como muito bem lembrou José Bartolo. Em relação a este aspecto, felizmente, e como tu próprio disseste, existem ainda por aí alguns bons exemplos de seminários e congressos que não cobram taxas àqueles que vão lá falar. Mas são cada vez menos, e por isso é que decidi lançar esta questão, porque eu quero continuar a produzir artigos e comunicações, e não me apetece nada ter de pagar para isso. Para além de me parecer errado, não sou rico, e uma parte significativa do dinheiro que ganho serve para comprar livros e outros bens científicos/culturais que me permitem continuar a dar aulas e escrever artigos.

Por último, temos ainda a questão da velocidade disparatada a que isto chegou, em que o mais importante não é o conteúdo do artigo/comunicação, mas sim o número de artigos/comunicações por ano; mesmo que ninguém os leia. A este propósito, partilho aqui uma notícia que um amigo meu me enviou, a propósito de uma manifesto de investigadores que defendem  a necessidade da "slowscience"

Aqui vai:

08/08/2011 - 08h42
'Slow Science' prega pesquisa científica em ritmo desacelerado
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*SABINE RIGHETTI*
FOLHA DE SÃO PAULO
  Um movimento que começou na Alemanha está ganhando, aos poucos, os
corredores acadêmicos. A causa é nobre: mais tempo para os cientistas
fazerem pesquisa.
Quem encabeça a ideia é a organização "Slow  
Science"<http://slow-science.org/>,
criada por cientistas gabaritados da Alemanha.
Você concorda com o "Slow Science"?
Vote<http://polls.folha.com.br/poll/1122005/>
Aderir ao movimento significa não se render à produção desenfreada de
artigos em revistas especializadas, que conta muitos pontos nos sistemas de
avaliação de produção científica.
Hoje, quem publica em revistas científicas muito lidas e mencionadas por
outros cientistas consegue mais recursos para pesquisa.
Por isso, os cientistas acabam centrando seu trabalho nos resultados
(publicações).
"Somos uma guerrilha de neurocientistas que luta para que o modelo midiático
de produção científica seja revisto", disse à *Folha* o neurocientista Jonas
Obleser, do Instituto Max Planck, um dos criadores do "Slow Science".
O grupo chegou a criar um manifesto, no final do ano passado, em que
proclama: "Somos cientistas, não blogamos, não tuitamos, temos nosso tempo.
A ciência lenta sempre existiu ao longo de séculos. Agora, precisa de
proteção."
O documento está na porta da geladeira do laboratório do médico brasileiro
Rachid Karam, que faz pós-doutorado na Universidade da Califórnia em San
Diego.
"O manifesto faz sentido. Temos de verificar os dados antes de tirarmos
conclusões precipitadas", analisa. "A 'Slow Science' nos daria tempo para
analisar uma hipótese em profundidade e tirar conclusões acertadas."
De acordo com Obleser, o número de cientistas simpatizantes do movimento
está crescendo, "especialmente na América Latina".
"Mas não é preciso se filiar formalmente. Basta imprimir o manifesto e
montar guarda no seu departamento", diz.
O Slow Science é um braço do já conhecido "Slow Food", que defende uma
alimentação mais lenta e saudável, tanto no preparo quanto no consumo dos
alimentos.
Na ciência, a ideia é pregar a pesquisa que não se paute só pelo resultado
rápido.


*CETICISMO*
"É improvável que o ritmo de fazer pesquisa seja diminuído por meio de um
acordo mundial em que cada cientista assume o compromisso de desacelerar
seus trabalhos", diz o especialista em cientometria (medição da
produtividade científica) Rogério Meneghini.
Ele é coordenador científico do Projeto SciELO, que reúne publicações da
América Latina com acesso livre.
Para Meneghini, o "Slow Science" é um movimento "anêmico" num contexto em
que a rapidez do fluxo de ideias e informações acelera as descobertas.
"Parece uma reivindicação de um velho movimento com uma roupagem nova. É
certamente a sensação de quem está perdendo as pernas para correr", conclui.


Abraço e obrigado pela foto;)

DCR

A 08/02/2012, às 18:11, André Rangel escreveu:

> Loool :)
> 
> Dinis, presunção incerta porque eu desconhecia 'Los Penetrados' ;) Mas agora já conheço, obrigado!!
> 
> O debate que propuseste não me lembra qualquer tipo de penetração sexual. Observando com alguma atenção as fotografias da obra do Santiago parece-me que estava lá gente que nem erecção tinha para penetrar fosse quem (ou o que) fosse. As legendas mentem mas isso é aceitável porque o Santiago vende arte.
> 
> Quanto ao patrocínio para a tua actividade docente, se for eficiente já estou a ver o bar e a cantina da FBAUP assim:
> 
> http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/df/British_Chess_Championship_2009.jpg
> 
> Sudações,
> 
> André Rangel
> 
> On Feb 8, 2012, at 1:36 PM, Diniz Cayolla Ribeiro wrote:
> 
>> Ao reflectir sobre isto, vem-me sempre à memória o trabalho de Santiago Sierra, realizado em 2008. Intitula-se: Los Penetrados. Presumo que conheces: http://www.santiago-sierra.com/200807_1024.php
> 
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