[ARENA] “Fuck May 68; Fight now!”

Fernando José Pereira fjp virose.pt
Domingo, 16 de Outubro de 2011 - 17:21:32 WEST


OLá a todos

Escrevi este texto há já dois anos para contextualizar uma trabalho realizado especificamente para a rede. Na altura estava longe de pensar que passados dois anos ele teria uma tal actualidade. Mas, infelizmente tem. Aí está para ser partilhado com todos.
Fernando José Pereira
"Por todo o lado na cidade de Atenas está pintada a frase “Fuck May 68; Fight now!”. Ela é o testemunho físico das manifestações que aí decorreram nos dias de Dezembro do ano passado. Mas é, também e sobretudo, um sério aviso a todos aqueles que, de algum modo, encaram o combate com o olhar nostálgico dos que perderam o horizonte. Foi, aliás, desta forma que Jacques Rancière se referiu, num texto lido nas Conferências de Moscovo, também no ano passado, à reacção da esquerda ao estado actual do mundo.

O significado profundo das palavras pintadas nas paredes gregas remete para um ajuste de contas que já não é sequer identificável com o idealismo de 68 e que concentra nos seus núcleos os ensinamentos de outras revoltas mais recentes e muito menos contextualizadas ideologicamente. As reacções juvenis, havidas um pouco por todo o lado, ao aprofundamento da invasão globalizadora tornaram-se no novo modus facienti de toda uma geração. A desorganização em que se movimentam e a ausência de controlo fazem com que se tornem, de imediato, incómodas e suspeitas aos olhos das ditas organizações políticas “responsáveis”, mesmo as chamadas organizações juvenis. Aquelas que nas actuais condições políticas do capitalismo em crise se mostram como totalmente alheadas da vida real e das realidades que daí advêm. Aparentemente é de um violento paradoxo que se trata mas, como em tudo neste nosso tempo imagético, a aparência é afinal o lado tangível da realidade. Vejamos: a crítica mais generalizada aos nossos jovens é a do seu distanciamento relativamente ao fenómeno do político. Alguns, contudo, militam nas organizações juvenis dos partidos políticos ditos do poder, ou seja, dos “responsáveis”. Mas essa militância apenas tem uma ligação fonética com a palavra pois o seu significado modificou-se de tal forma que é difícil encontrar qualquer similitude. São esses que hoje ocupam os corredores do poder aos mais variados níveis (do parlamento europeu aos modestos e incógnitos jobs for the boys...) exercendo aí a política como uma profissão que, dizem-nos constantemente, deve ser respeitável. Autênticos apparatchicks pós-políticos.

Nas ruas, os outros, jovens encapuçados (protecção essencial contra as cargas policiais) encarnam essa máxima do niilismo punk do no future, “arruinando a hipótese de um estado moderno(?)” como clamaram, em pânico, os media em clara sintonia com este tempo gloriosamente asséptico e maquínico de um only future que, acima de tudo, odeia e diaboliza a ideia de se poder não estar de acordo. Uma espécie de doença, dizem...

A palavra anosognosia refere-se a um estado patológico em que o paciente não tem consciência do seu verdadeiro estado. O acrescento do prefixo des quer significar em dupla condição: por um lado construindo uma nova palavra que quer ter um significado específico; por outro, evitando a ratoeira de utilizar uma palavra existente para significações diversas. Queremos ser inequívocos, a palavra desanosognosia (que existe por nossa inteira vontade a partir deste momento) quer significar uma consciência aguda do estado das coisas. Tão patologicamente aguda que descontrolada."

 

Fernando José Pereira,

2009


NOTA: Desanosognosia é uma obra realizada para o universo da rede por mim com a colaboração de Tiago Assis. Pode ser visionada em:
http://www.interact.com.pt/

 
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