[ARENA] Fwd: Mercado do Bom Sucesso _ Acção de Cidadania e Protesto

alexandra balona alexandrabalona gmail.com
Quinta-Feira, 19 de Maio de 2011 - 04:38:42 WEST


Caros,

Vejo a Arena como plataforma de divulgação artística e, imagino que o seu
propósito não seja a discussão política, nem tão pouco de divergências da
mais diversa ordem. Usei este veículo porque me pareceu eficaz para alcançar
um grande número de público, num curto espaço de tempo. Lamento se isto
trouxe algum transtorno.

Porém, como responsável pela divulgação desta comunicação na Arena,
pretendia deixar uns esclarecimentos:

"Impedir a *demolição*..." não era o título mais adequado para esta acção de
protesto. Porém, existia já uma petição, uma causa e um evento criados no
facebook pelo Movimento Mercado Bom Sucesso Vivo! (
http://mercadobomsucesso.wordpress.com/) que, recentemente, alguns
arquitectos decidiram apoiar, nomeadamente eu e o autor do texto enviado.
Esta divulgação integra-se, portanto, nesse processo que decorre há já algum
tempo. Embora sabendo não se tratar de uma demolição, mas de uma
"reabilitação" (descaracterizadora, a meu ver, mas já lá iremos),
pareceu-nos pertinente não alterar o título para não dispersar atenções.

E agora, como arquitecta, como cidadã "informada", nada conservadora, que
detesta o "obscurantismo" (sobretudo das opções políticas disfarçadas de
reabilitação) e o "atraso" (notório na falta de visão estratégica dessas
mesmas opções), passo a clarificar algumas razões do protesto, muito para
além de legitimações do gosto arquitectónico:

"Em Junho de 2009, a Câmara Municipal do Porto aprovou a entrega do Mercado
do Bom Sucesso a uma empresa privada para a construção de um hotel "low
cost".

A escritura para a cedência do direito de superfície à empresa Mercado
Urbano (subsidiária da bracarense Eusébios & Filhos, SA),  *por um um
período de 50 anos (prorrogáveis por mais 20)*, foi assinada em 25 Janeiro
de 2011.

Segundo os promotores, o equipamento deverá abrir no último trimestre de
2013 com um hotel, escritórios, novas lojas e algum “comércio tradicional."


Para o arquitecto Pedro Gadanho isto pode tratar-se de uma transformação do
Mercado "por forma a viabilizar a sua existência enquanto equipamento
urbano".

O Mercado do Bom Sucesso foi classificado como "Monumento de interesse
público". Julgo que esse interesse público vai para além da preservação da
sua fachada, integra a sua função de mercado, assim como a especificidade do
seu amplo espaço interior, que lhe é intrínseca.

*
*

Perante o argumento da obsolescência de equipamentos como Mercado, convém
lembrar a política de *desinvestimento* nos Mercados Municipais na cidade do
Porto desde há mais de uma década. Não se permite alugar mais
estabelecimentos no seu interior, não se renovam licenças aos comerciantes,
a manutenção dos edifícios é mínima. Que se tornem obsoletos para
justificarem a referida reabilitação ou "transformação".

E momentos como este, de crise económica, são óptimos alibis para apressar
contratos de cedência de edifícios de interesse público a empresas privadas
por 50 anos+20, quase sem margem para discussão pública.


(Segundo informações na comunicação social:

(
http://www.jn.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Porto&Concelho=Porto&Option=Interior&content_id=1287382&page=2)
a empresa pagará um aluguer anual de 45000€, o que se traduz em 3750€
mensais, descontados até 50% nas indemnizações que a empresa pagará aos
comerciantes, o que permitirá a empresa ficar alguns anos sem pagar
aluguer.)




Pois, meus caros, e a título pessoal:


- sou a favor do *Mercado do Bom Sucesso reabilitado*, mantendo a sua *função
de mercado de frescos* - uma alternativa ao monopólio das grandes
superfícies - mas acredito que seja necessário integrar funções
complementares, nomeadamente, de restauração, comércio tradicional, promoção
de produtos biológicos portugueses, eventos... Naturalmente, com horários de
funcionamento adaptados às novas exigências.


- um edifício classificado e exemplar da arquitectura modernista portuguesa
- com a valência da sua função e espaço interior, da sua luminosidade, da
sua estrutura - tem condições para se tornar num equipamento urbano viável,
porque são estas *especificidades culturais* *preservadas* que se convertem
em atractivos turísticos, sustentáveis e promovem "referências na paisagem
urbana e na vivência da população".

Exemplos dinâmicos de equipamentos semelhantes são os mercados em Espanha,
nomeadamente, em Madrid ou Barcelona.

Não seria isso um incentivo à nossa economia, agricultura, pequenos
produtores, pequenos comerciantes?


- entendo, a partir das imagens apresentadas do projecto (os únicos
elementos oficialmente conhecidos e cedidos sobre o mesmo), que este não
garante a integridade do espaço interior do edifício classificado que, a meu
ver, será absolutamente imprescindível preservar, mesmo sabendo da aprovação
(com contornos pouco claros) do mesmo pelo IGESPAR (
http://jpn.icicom.up.pt/2011/05/17/bom_sucesso_projecto_de_requalificacao_foi_aprovado.html
)


- questiono a viabilidade da alternativa apresentada pelos promotores: "hotel,
escritórios, novas lojas e algum “comércio tradicional”, na proximidade de
três shoppings contíguos que dão sinais já de pouca sustentabilidade.

Mas, enfim, este é o conceito de progresso dos nossos representantes
políticos na Câmara Municipal do Porto!


"Consumer Society" (1970) - há mais de 4 décadas! - nós no nosso pré-25 de
Abril e Baudrillard criticava já a proliferação dos shoppings, a
"climatização geral da vida, dos bens, dos objectos, serviços,
comportamentos e relações sociais..."


"Realmente este país ainda tem muito que andar", em muitos aspectos, em
muitos sectores.




Esta acção de protesto apartidária vai muito para além de uma tomada de
posição estética contra o projecto.



Cumprimentos cordiais,

Alexandra Balona
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