[ARENA] E nós por lá...?

Pedro dos Reis m0rph3u gmail.com
Quinta-Feira, 14 de Abril de 2011 - 15:03:38 WEST


Infelizmente os votos nulos só invalidaram Referendos.
Em Portugal nunca é questionado o significado do voto nulo nos momentos
pós-eleitorais.
É estranho que com taxas de abstenção ou de votos nulos, em crescente, nunca
tivesse havido um partido político que pusesse essa questão na AR...
Talvez essa análise forçasse a que se pensasse num outro modelo de
participação democrática, que não este, que claramente não representa a
população.

Também não se entende que num país que teve um aumento de pessoas com acesso
a melhores condições de ensino, as campanhas eleitorais sejam vazias de
programa político para além de promessas pré-eleitorais a roçar o "básico",
onde só se destacam medidas popularistas.

Para estas eleições até se prevê o pior, pois não se tem dito mais do que
queremos um Governo de Coligação, mas não gosto dos outros Srs.; vamos
aumentar o IVA porque é um "imposto justo", entre outras barbaridades, que
não são questionadas pelos inúmeros comentadores que populam a Comunicação
(dita) Social e que só geram ruído, não acrescentando muito mais ao que a
população já sente.

Ao mesmo tempo são tornados públicos os valores facturados e lucrados por
empresas que possuem posições dominantes na economia do País; revelam-se os
salários auferidos pelos gestores dessas empresas (e até os impostos que
deviam ser pagos e que prescrevem misteriosamente) e ninguém com
responsabilidade vai analisar o que se passa e se essas pessoas ou entidades
não poderiam contribuir mais para evitar que os problemas da dívida do
Estado pudessem ser evitados.

2011/4/14 João Marcelo <joaomls  gmail.com>

> Em Portugal ou Espanha, um grande exponencial de votos nulos pode invalidar
> uma eleição? Porque, na prática, se ele não o fizer,e se for inexpressivo,
> não faz a menor diferença. Pelo menos é assim no Brasil. Por lei somos
> obrigados a votar e perdemos alguns direitos se não estamos em dia com o
> processo eletivo (nada muito dramático). Temos uma pequena taxa de votos
> nulos e brancos e um bando de incompetentes nos governando, alguns
> analfabetos (que conseguem burlar a lei) e uma expressiva parcela que não
> sabe nem reconhecer o mapa do Brasil.
>
> Enfim, parece que anular o voto, na prática, fortalece o grupo que nos
> incomoda, que é corrupto e entende as minúcias do sistema democrático. Mas
> esse é o caso do Brasil, o que acompanho mais diretamente. Poderia citar os
> Estados Unidos, que possuem  altas taxas de pessoas que não votam e possuem,
> na prática, um sistema de 2 partidos: o ruim e o pior. Mas não me atrevo a
> descorrer mais sobre eles.
>
> joao
>
> 2011/4/14 X. Lois Gutiérrez <unruidosecreto  yahoo.es>
>
> Cá na Espanha tentamos outra soluçâo: nâo votem. Acción directa,
>> compromiso, luta, asamblearismo, creaçâo, antiparlamentarismo. Sâo palavras
>> que aínda servem, nâo significam qualquer coisa.
>>
>> saúde e força.
>>
>> X. Lois Gutiérrez
>>
>>
>>
>>
>> --- El jue, 14/4/11, Virgínia <virginia.not.wolf  gmail.com> escribió:
>>
>> > De: Virgínia <virginia.not.wolf  gmail.com>
>> > Asunto: Re: [ARENA] E nós por lá...?
>> > Para: "arte ‹ teoria ‹ prática" <arena  lists.virose.pt>
>> > Fecha: jueves, 14 de abril, 2011 09:02
>> > Em relac,äo ao voto em branco e aos
>> > "partidos da esperanc,a":
>> >
>> > Suponho que se esteja a falar da extrema esquerda e
>> > direita que, por forc,a da existência, säo coniventes com
>> > a manutenc,äo do estado das coisas e tiveram as mesmas
>> > oportunidades legislativas - sem entrar em detalhes de
>> > financiamento e outros que tais - que qualquer outro grupo
>> > partidàrio.
>> >
>> > Todos os programas polìticos säo naturalmente bons nas
>> > suas propostas concretas e distintas. Mas sim, a
>> > putrefacc,äo é também uma forma de vida.
>> > Se se advoga o momento de mudanc,a està mais que na hora
>> > de demitir a configurac,äo actual.
>> >
>> > A querida Islândia näo elegeu representantes dos vàrios
>> > quadrantes sociais ao invés de repor assentos nas mesas de
>> > casamento? Talvez isso se confunda com uma polìtica de
>> > esquerda, da que fica mais para leste.
>> >
>> > Que as agências de rating säo especuladoras e que o
>> > dinheiro, em boa verdade, näo existe deveria ser um
>> > exercìcio de reflexäo simbòlica por parte de todos para
>> > fazer face à impotência e ao estigma de cauda da Europa,
>> > infalivelmente destinados ao caos e ao falhanc,o. Por ora,
>> > estamos no lugar que merecemos. Näo hà ainda capacidade
>> > popular e demòfila para impor a expressäo do voto que, ao
>> > que parece, foi socialista durante este 6 anos de terapia de
>> > mercados. Neste momento, näo me ocorre nenhum governo que
>> > se reja pelo seu povo ainda que o contràrio seja
>> > invariavelmente factual.
>> >
>> > Talvez manifestac,öes apartidàrias como a de 12 de
>> > Abril ajudem a ilustrar o que tenho dito. Serà que ter sido
>> > um dos maiores movimentos contestatàrios populares dos
>> > ùltimos tempos näo tem que ver com a ausência de
>> > politiquice standard(?). Acredito em contestac,äo sem a
>> > colherada do PCP ou Bloco que, por hàbito säo oposic,äo
>> > ao governo e "mercados". Säo partidos que
>> > nasceram para se oporem e, por muito sinistra que
>> > seja a minha inclinac,äo polìtica, acho que deixei para
>> > tràs o enquadramento formal do exercìcio da cidadania.
>> >
>> > Por isto e pelo desencanto, creio que o Partido Em Branco
>> > seja maior afirmac,äo. Sem candidatos, sem nomes, sem cor,
>> > sem carismàticos trapac,eiros. Um partido composto à
>> > posteriori com portfolios e CV's como é exigido a
>> > qualquer profissional. E, sobretudo, elementos concentrados
>> > no interesse da soberania portuguesa para além do atletismo
>> > do poder.
>> >
>> >
>> > E agora tenho de voltar ao trabalho. Näo se pode suspender
>> > a economia do lar.
>> > Vou fazer madeira falsa, a partir da Suic,a, para imprimir
>> > em Taiwan. Depois, o pvc vai para Portugal, colado sobre a
>> > cortic,a e distribuido para todo o mundo como um produto
>> > ecològico. Um êxito, asseguro-vos.
>> >
>> > (talvez me devesse despedir)
>> >
>> > Bom dia.
>> >
>> > 2011/4/13 Dinis
>> > Santos <dinismanueld  gmail.com>
>> >
>> > Sobre a ameaça dos mercados que ganharam características
>> > humanas nos últimos tempos como ("os mercados estão
>> > nervosos, ou desconfiados"...) e sobre a tecnocracia
>> > financeira:
>> >
>> > "PORTUGAL’S plea for help with its debts from the
>> > International Monetary
>> > Fund and the European Union last week should be a warning
>> > to
>> > democracies everywhere."
>> >
>> > (perdoem-me não tenho a certeza se toco ou não toco o
>> > campo da arte...)
>> >
>> > http://www.nytimes.com/2011/04/13/opinion/13fishman.html?_r=1
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > (sobre eleições e votos em branco...ainda há partidos,
>> > com respostas concretas e distintas relativas aos assuntos
>> > graves da última década, aos quais não foi dada a
>> > oportunidade de ter mais expressão parlamentar...)
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > Dinis Santos
>> >
>> >
>> >
>> > 2011/4/12 miguel leal
>> > <ml  virose.pt>
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > Olá uma vez mais,
>> > Continuando a recentrar o debate na questão que
>> > o FJP levantou com a imagem dos seus 'amigos
>> > isladeses', lembrei-me de um texto que escrevi há uns
>> > meses sobre vulcões (islandeses), nuvens, ecomomia e
>> > política, e que parece vir mesmo a calhar. O texto foi
>> > escrito para a publicação 'State of Motion',
>> > editada pelo Colectivo Piso (Berlim, 2011). <
>> http://piso-collective.blogspot.com/p/publications.html>
>> >
>> >
>> >
>> > abs
>> > ml
>> >
>> > _________________________________________________A metonymy of
>> displacement:
>> > Clouds and volcanoes
>> >
>> >
>> > _________________________________________________
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > We know from
>> > physics that every displacement is relative. It seems there
>> > is no such thing as displacement without a point of origin,
>> > without a point from where to measure both the direction and
>> > the distance of a certain movement from one place to the
>> > other. In those terms displacement can only be defined as a
>> > relative condition: the actual position (B) being relative
>> > to an initial position (A). To be out of place is to be
>> > displaced. We obtain the figures of our displacement by
>> > measuring the difference between A and B, a difference that
>> > implies not only space but also time. The sense of
>> > displacement depends on this relation between A and B, there
>> > and here, then and now. However, we also know things can be
>> > much more complicated. For instance, the kind of measurement
>> > we were just describing usually uses as reference a straight
>> > line going from A to B from which it is impossible to draw
>> > the real path taken during the displacement from one point
>> > to the other. Displacement is always an awkward situation
>> > based on strange connections between time and space.
>> > Displacement is not (only) a matter of measurements. Imagine
>> > A and B are not only two but a multiplicity of points,
>> > imagine then is now and now is then, imagine there is here
>> > and here is there, imagine everything is out of place. How
>> > to define displacement from such a complicated placement of
>> > things? Retaining the basic idea that every displacement is
>> > relative, we will try to step a little further into
>> > this.
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > Shifting
>> > quickly to psychoanalysis, the terrain of a very complex
>> > notion of time and space, we will discover other useful
>> > notions to think about this topic. In fact, Freud, haunted
>> > by his former education as a neurologist, always felt
>> > tempted to explain the functioning of the unconscious
>> > through topographic models. Early in his work we find the
>> > very notion of displacement (verschiebung) being used as a
>> > key concept to describe certain unconscious processes of the
>> > psyche. Although the notion of displacement was approached
>> > differently throughout his vast work, Freud always kept it
>> > as a way to explain the reattachment (by a repressive
>> > displacement) of something to something else: B in the place
>> > of A; A transposed to B. But the interesting (and
>> > complicated) part of this process is that this Freudian
>> > displacement — relative as any other displacement —
>> > implies a forgotten origin. We are displaced without any
>> > notion of displacement. And, in the end, reenacting it all,
>> > we discover that B is not B and it’s not A; A is not A and
>> > is not B. During this process A and B are transformed into
>> > something else. There is no return to any ideal point of
>> > origin. Furthermore, looking back critically at Freud and
>> > psychoanalysis, we realize there is no point of origin at
>> > all: A transforms B and B transforms A; this process is pure
>> > transformation and we never really get the answers we
>> > expect. Years later Lacan[1], opening the book of
>> > linguistics to explain a former topological problem,
>> > compared displacement to metonymy, the figure of speech in
>> > which a thing or concept is not called by its own name.
>> > Actually, with the notion of displacement proposed by
>> > psychoanalysis we enter a completely different terrain, less
>> > topographic and extensive and more complex and intensive, a
>> > terrain where everything is out of place and where words
>> > speak different languages, a terrain where there are no
>> > points (A, B or even C) but only intensive connections
>> > between them. Following this, and knowing already how A and
>> > B are not what they seem to be, we also realize there is no
>> > such thing as a line between A and B, but only points
>> > precariously situated at the intersection of several
>> > lines[2]. Every displacement is in fact relative but is also
>> > intensive, complex and sometimes contradictory.
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > **
>> >
>> > Early this year
>> > an Icelandic volcano with an unpronounceable name —
>> > Eyjafjallajökull — woke furiously from a long period of
>> > rest. Overwhelmed by it, but feeling safe monitoring the
>> > event at distance, we were far from imagining the real
>> > effects of this eruption in our lives. In fact, a huge cloud
>> > of ashes extended its long tail over Europe, creating chaos
>> > in the skies. Flights cancelled and airports closed, Europe
>> > rediscovered its geography and experienced something
>> > different about the idea of displacement and the effects of
>> > the so-called globalization.
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > First in April
>> > and again in May, the cloud of volcanic ashes covered the
>> > skies in an insidious manner, quickly reaching central and
>> > southern Europe. Invisible and silent as it was, at least
>> > from the ground, the cloud could only be (roughly) followed
>> > through satellite images and its position at a certain
>> > moment was always hard to determine with precision. So,
>> > during those two short but intense periods, some of us were
>> > transformed in amateur meteorologists and volcanologists,
>> > looking desperately in sites such as the London’s Met
>> > Office for information about a new monstrosity living
>> > somewhere over our heads[3]. To a certain extent, we were
>> > standing still whilst trying to follow such an invisible
>> > (but huge) and ever-changing cloud, feeling uncomfortable
>> > knowing that something unpredictable was moving fast causing
>> > a temporary crash in the way we were dealing with geography,
>> > time and space. Things that we somehow took for granted
>> > suddenly disappeared: we were displaced without a single
>> > move from the place we were standing in.
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > There are
>> > several ways to link the effects of this eruption to the
>> > idea of displacement. One of them is precisely the feeling
>> > of perceptive disarrangement caused by the observation of an
>> > object that is moving while the observer is standing still
>> > (or the other way around), something that everyone has
>> > already experienced, for instance, looking up to the sky
>> > covered in fast moving clouds. But with the cloud of ashes
>> > caused by the Eyjafjallajökull the resulting displacement
>> > was coming more from the secret unpredictability and
>> > dimension of the phenomenon than from any bodily sensation.
>> > In fact, this cloud of ashes was to connect very closely
>> > those two figures of the unpredictable — the cloud and the
>> > volcano — and their corresponding
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > sciences —
>> > meteorology and volcanology —, and so bringing a new
>> > certain uncertainty to our daily lives. In this way the
>> > cloud of the Eyjafjallajökull is able to force an ideal
>> > geography (both personal and collective) to collide with
>> > reality, offering at the same time an impressive metaphor to
>> > the dark times announced by the ongoing financial crisis.
>> > There is a shared secret monstrosity linking the real but
>> > invisible cloud of ashes to the metaphoric but quite real
>> > dark cloud originated during the 2009 financial breakdown.
>> > Both clouds were able to produce a feeling of impotence that
>> > transforms our lives and our experience of time and space,
>> > building, reshaping and even destroying our personal and
>> > collective geographies.
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > Similarly to
>> > the effects of the cloud of ashes, this financial crisis
>> > caused things that we somehow took for granted to suddenly
>> > vanish: we were displaced but forced to stay in our place.
>> > This is not only a question of knowing, for instance, if
>> > there is a chance for the politics of social welfare; this
>> > is a question of knowing if this is not simply an excuse to
>> > terminate any idea of political action. Neither politics nor
>> > the economy have been able to move from reaction to action.
>> > We are facing a simulacrum of consensus which announces the
>> > end of politics and the rise of a new pragmatic approach to
>> > the art of governing. The problem is that the economy — as
>> > we have learned from the Eyjafjallajökull and the threat
>> > posed by its bigger and more dangerous neighbour, the Katia
>> > — is also a kind of Russian roulette: we never really know
>> > when it is going to erupt again. More so, in one way or
>> > another, it’s easier to talk to clouds and volcanoes than
>> > to the markets or the technocracy of the economists. Clouds
>> > and volcanoes are unpredictable, that is true, but at least
>> > they are not trying to occupy every interstice of our lives.
>> > They are ungovernable and that is the reason for their
>> > threatening beauty.
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > Miguel
>> > Leal
>> > Porto, October
>> > 2010.
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > P.S. Reading
>> > the text again I have just realized that I ended writing
>> > about clouds, volcanoes and politics when I intended to
>> > write about art and its figures of change and
>> > transformation, something that turned my words into a truly
>> > metonymy of displacement…
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > [1]
>> > “L’Instance de la lettre dans l’inconscient ou la
>> > raison depuis Freud” (1957).
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > [2] “It is
>> > not the line that is between two points, but the point that
>> > is at the intersection of several lines” (Deleuze,
>> > Pourparleurs, 1990, p. 219).
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > [3] The Met
>> > Office is the UK's National Weather Service. The Met
>> > Office hosts the London Volcanic Ash Advisory Centre (VAAC)
>> > and during this crisis updated every six hours forecasts
>> > monitoring the volcanic ashes cloud <
>> http://www.metoffice.gov.uk/aviation/vaac/vaacuk_vag.html>.
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > __________________________________
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > On 12Apr2011, at 3:54 PM, Fernando José Pereira
>> > wrote:
>> >
>> >
>> >
>> > Escrevi já há alguns anos um texto que se intitulava
>> > "O elogio da infâmia", aí referia-me às
>> > possibilidades políticas de tal acto. A infâmia, neste
>> > mundo controlado e anestesiado é, de imediato, arredada
>> > para territórios "impróprios" que nos querem
>> > fazer querer exteriores aos limites do tolerável. Ora, como
>> > facilmente poderão constatar, não abdicamos da discussão
>> > e pensamos até, que a dissensão é a base de todo o
>> > pensamento político democrático. Aquilo que não
>> > tolerámos enquanto coordenadores de uma lista pública é a
>> > sua distorção em lugar de disputas pessoais (aparentemente
>> > próximas da ideia de antagonismo que defendemos mas, como a
>> > realidade facilmente demonstra, distantes da eficácia
>> > política e, logo social, da noção).
>> >
>> >
>> > É por demais evidente que vivemos dias de excepcionalidade
>> > política: querem-nos suprimir a possibilidade democrática
>> > de discordar, querem-nos fazer querer, como muito bem
>> > exemplificava o Miguel Leal na sua metáfora, que estamos
>> > inevitavelmente entregues a uns especialistas que nos vão
>> > tratar da saúde...
>> >
>> >
>> > Ora, o que neste momento importa pensar é a nossa
>> > condição de artistas, de cidadãos interessados,
>> > envolvidos que estamos nesta teia espiralada de que temos
>> > dificuldade em nos libertar. A ideia inicial, quando
>> > coloquei nesta lista uma imagem de um mural próximo do
>> > aeroporto de Reikjavik, era tentar encontrar, neste espaço
>> > de diálogo, ideias para a nossa autodefesa, ideias que
>> > pudessem ser partilhadas e, se possível, aprofundadas pelos
>> > mecanismos de discussão que temos ao nosso dispor. É
>> > evidente que não é inocente a sua escolha. É verdade que
>> > a politização das nossas discussões é mais necessária
>> > que nunca. Agora uma coisa é certa, nunca nos quisemos
>> > distanciar da nossa condição, não temos soluções
>> > milagrosas, nem queremos. Aquilo que nos preocupa é olhar
>> > em redor e verificar que a anestesia se torna cada vez mais
>> > visível e que nos enredamos em discussões estéreis ou
>> > superficiais ou mesmo corporativas. Não por acaso os picos
>> > de participação desta lista estão inevitavelmente ligados
>> > a processos deste género. A minha sugestão enquanto
>> > coordenador desta lista vai no sentido de apelar à
>> > colaboração de todos na discussão aberta dos nosso
>> > problemas e que se evitem, de uma vez por todas, as
>> > aproximações ao que de pior têm este tipo de espaços
>> > (estou a lembrar-me, não por acaso, dos espaços de
>> > comentário que existem nos jornais on-line onde as
>> > respectivas direcções sentiram necessidade de
>> > controlar).
>> >
>> >
>> > A escolha da Islândia para dar início a uma
>> > discussão é sintomática daquilo que se está a passar cá
>> > e lá: por cá dizem-nos que quase nem sequer vale a pena
>> > votar pois tudo será decidido a outro nível; por lá
>> > vota-se livremente e pensa-se livremente assumindo por
>> > inteiro as responsabilidades de tais actos. Só podem ter a
>> > minha maior admiração.
>> >
>> >
>> > Os artistas Islandeses estão, também eles,
>> > envolvidos neste processo. Juntemos à foto do mural esta
>> > outra iniciativa levada a cabo por artistas, com a
>> > colaboração do Reykjavik City Theatre: a leitura
>> > ininterrupta, por todos aqueles que trabalham naquela
>> > instituição, das milhares de páginas do relatório sobre
>> > a bancarrota do país, entretanto publicado. A acção
>> > decorreu com as portas do teatro abertas 24 horas e
>> > transformou aquele espaço cultural no centro mediático da
>> > discussão em torno de um documento que, à partida, é
>> > feito por especialistas e para ser entendido apenas por
>> > especialistas. Foi uma acção maravilhosa.
>> >
>> >
>> > A Islândia é, neste momento, território infame para
>> > os experts de que fala a Laurie Anderson. Ainda bem
>> > para eles. E nós por cá...?
>> > NOTA: aqui têm o texto completo para que não
>> > restem dúvidas sobre o que afirmo.
>> >
>> >
>> >
>> > Fernando José Pereira
>> >
>> >
>> > O elogio da
>> > infâmia
>> >
>> >
>> > A infâmia é um lugar
>> > fronteiriço, um significado vazio que corporiza, como tal,
>> > a existência de duas
>> > entidades separadas e preenchidas de significações
>> > opostas. Assim, a
>> > localização territorial da infâmia fornece-lhe a
>> > possibilidade impar de
>> > protagonizar o antagonismo. A actual preocupação liberal
>> > de procura desvairada
>> > de consensos situa a infâmia como lugar de resistência
>> > que, desta forma,
>> > curiosamente se vê transformada em partícula essencial da
>> > vida democrática.A territorialidade infame afirma
>> > radicalmente a dissensão. É neste lugar que devemos
>> > concentrar a nossa atenção
>> > e não nas suas confluências limítrofes. A
>> > categorização, sempre subjectiva, dos
>> > conteúdos por estas introduzidos e utilizados
>> > apresenta-se, assim, como
>> > profundamente secundarizada relativamente ao imenso poder
>> > do lugar infame.
>> > Acima de tudo, porque este se apresenta, sempre, como
>> > amoral, longe da lógica
>> > unívoca da razoabilidade moralista ou, então, da sua
>> > oposição polar imoral,
>> > afinal faces da mesma moeda.Algumas tradições transmontanas
>> > de comemoração do carnaval, em que populares de aldeias
>> > vizinhas se opõem
>> > verbalmente, utilizando os mais variados e fortes insultos,
>> > afirmam-se como uma
>> > curiosa estruturação espacial. Este território
>> > fronteiriço, formalizado pela frontalidade
>> > simétrica de dois lugares altos, dois montes, separados
>> > por um vale
>> > apresenta-se como uma fortíssima metáfora da
>> > democraticidade antagonista.
>> > Afirma, no entanto, Slavoj Zizek que um dos problemas das
>> > democracias liberais
>> > contemporâneas é a transformação da ideia de
>> > antagonismo em possibilidade
>> > unicamente agonística, isto é, uma pacificação “bem
>> > comportada” da anterior
>> > noção de combate. É neste ambiente adormecido que surge
>> > o potencial da infâmia
>> > porque, por isso mesmo, a sua conotação negativa lhe
>> > permite um posicionamento
>> > radical. Debaixo do fogo “politicamente correcto”, o
>> > território infame afirma
>> > uma vitalidade e um protagonismo que lhe é oferecido em
>> > nome próprio. O
>> > alastramento PC a todas as esferas da vida, a arte
>> > incluída, determina, então, uma
>> > espécie de nova transparência[1] consensual em que tudo se encontra
>> dentro
>> > dos “limites”
>> > deixando, naturalmente, de fora a nomeação “exterior”
>> > da infâmia.As razões são sempre as mais
>> > importantes, as mais próprias, as mais razoáveis e,
>> > apesar disso, apetece
>> > sempre estar como reduplicatio, isto
>> > é, numa posição que nunca se ajusta verdadeiramente ao
>> > seu lugar. Na
>> > contemporaneidade light e liberal
>> > este é o território da
>> > infâmia.Como afirma Alain Badiou na tese
>> > 14 das suas “quinze teses sobre arte
>> > contemporânea”:“Posto que se encontra seguro da
>> > sua capacidade para controlar todo o campo do visível e do
>> > audível através das
>> > leis que governam a circulação comercial e a
>> > comunicação democrática, o Império
>> > já não censura nada. Toda a arte e todo o pensamento
>> > estarão perdidos se
>> > aceitarmos essa permissão para consumir, para comunicar e
>> > para desfrutar.
>> > Deveríamos, por isso, convertemo-nos em cruéis censores
>> > de nós próprios.”[2]
>> >
>> >
>> > A arte é um lugar
>> > infame.
>> >
>> >
>> > * A etimologia da palavra
>> > é latina e decompõe-se
>> > da seguinte forma: in=non; fama (v.q.
>> > voce). Esta má fama inicial, que era importantíssima nas
>> > leis romanas, foi
>> > alargando a sua carga de significação até aos nossos
>> > dias. Assim, no dicionário
>> > português,  apresenta-se como s.f. e com as seguintes
>> > significados: má
>> > fama; acto ou dito infame; perda de boa fama; labéu
>> > imposto por lei ou pela
>> > opinião pública; descrédito; ignomínia; desonra;
>> > calúnia, difamação; injúria;
>> > indignidade; vitupério;
>> > opróbrio.
>> >
>> >
>> > Fernando José Pereira
>> > Outubro 2006
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > [1]
>> > Não
>> > devemos, contudo, esquecer que, como afirma Juan Luís
>> > Moraza, nada é mais invisível que a evidência, pois esta
>> > funciona como um
>> > marcador contextual que desvia o olhar daquilo que se
>> > supõe dever permanecer
>> > oculto.
>> >
>> >
>> >
>> > [2]
>> > Tradução minha
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > _______________________________________________
>> > ARENA mailing list
>> > ARENA  lists.virose.pt
>> > http://lists.virose.pt/mailman/listinfo/arena_lists.virose.pt
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > _______________________________________________
>> >
>> > ARENA mailing list
>> >
>> > ARENA  lists.virose.pt
>> >
>> > http://lists.virose.pt/mailman/listinfo/arena_lists.virose.pt
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > --
>> > Dinis Santos
>> > ====================
>> > 96 738 52 32
>> > dinismanueld  gmail.com
>> >
>> >
>> >
>> > _______________________________________________
>> >
>> > ARENA mailing list
>> >
>> > ARENA  lists.virose.pt
>> >
>> > http://lists.virose.pt/mailman/listinfo/arena_lists.virose.pt
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > --
>> > ✖
>> > Virgínia
>> > Valente
>> > ✖
>> >
>> >
>> > ➜ http://not-wolf.com/
>> > ☎ +351 96 463 30 71
>> >
>> >
>> > -----Adjunto en línea a continuación-----
>> >
>> > _______________________________________________
>> > ARENA mailing list
>> > ARENA  lists.virose.pt
>> > http://lists.virose.pt/mailman/listinfo/arena_lists.virose.pt
>> >
>>
>> _______________________________________________
>> ARENA mailing list
>> ARENA  lists.virose.pt
>> http://lists.virose.pt/mailman/listinfo/arena_lists.virose.pt
>>
>
>
> _______________________________________________
> ARENA mailing list
> ARENA  lists.virose.pt
> http://lists.virose.pt/mailman/listinfo/arena_lists.virose.pt
>
>


-- 
*Pedro dos Reis

*
-------------- próxima parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://lists.virose.pt/pipermail/arena_lists.virose.pt/attachments/20110414/71474759/attachment-0001.html>


Mais informações acerca da lista ARENA