[ARENA] E nós por lá...?

João Marcelo joaomls gmail.com
Quinta-Feira, 14 de Abril de 2011 - 13:52:32 WEST


Em Portugal ou Espanha, um grande exponencial de votos nulos pode invalidar
uma eleição? Porque, na prática, se ele não o fizer,e se for inexpressivo,
não faz a menor diferença. Pelo menos é assim no Brasil. Por lei somos
obrigados a votar e perdemos alguns direitos se não estamos em dia com o
processo eletivo (nada muito dramático). Temos uma pequena taxa de votos
nulos e brancos e um bando de incompetentes nos governando, alguns
analfabetos (que conseguem burlar a lei) e uma expressiva parcela que não
sabe nem reconhecer o mapa do Brasil.

Enfim, parece que anular o voto, na prática, fortalece o grupo que nos
incomoda, que é corrupto e entende as minúcias do sistema democrático. Mas
esse é o caso do Brasil, o que acompanho mais diretamente. Poderia citar os
Estados Unidos, que possuem  altas taxas de pessoas que não votam e possuem,
na prática, um sistema de 2 partidos: o ruim e o pior. Mas não me atrevo a
descorrer mais sobre eles.

joao

2011/4/14 X. Lois Gutiérrez <unruidosecreto  yahoo.es>

> Cá na Espanha tentamos outra soluçâo: nâo votem. Acción directa,
> compromiso, luta, asamblearismo, creaçâo, antiparlamentarismo. Sâo palavras
> que aínda servem, nâo significam qualquer coisa.
>
> saúde e força.
>
> X. Lois Gutiérrez
>
>
>
>
> --- El jue, 14/4/11, Virgínia <virginia.not.wolf  gmail.com> escribió:
>
> > De: Virgínia <virginia.not.wolf  gmail.com>
> > Asunto: Re: [ARENA] E nós por lá...?
> > Para: "arte ‹ teoria ‹ prática" <arena  lists.virose.pt>
> > Fecha: jueves, 14 de abril, 2011 09:02
> > Em relac,äo ao voto em branco e aos
> > "partidos da esperanc,a":
> >
> > Suponho que se esteja a falar da extrema esquerda e
> > direita que, por forc,a da existência, säo coniventes com
> > a manutenc,äo do estado das coisas e tiveram as mesmas
> > oportunidades legislativas - sem entrar em detalhes de
> > financiamento e outros que tais - que qualquer outro grupo
> > partidàrio.
> >
> > Todos os programas polìticos säo naturalmente bons nas
> > suas propostas concretas e distintas. Mas sim, a
> > putrefacc,äo é também uma forma de vida.
> > Se se advoga o momento de mudanc,a està mais que na hora
> > de demitir a configurac,äo actual.
> >
> > A querida Islândia näo elegeu representantes dos vàrios
> > quadrantes sociais ao invés de repor assentos nas mesas de
> > casamento? Talvez isso se confunda com uma polìtica de
> > esquerda, da que fica mais para leste.
> >
> > Que as agências de rating säo especuladoras e que o
> > dinheiro, em boa verdade, näo existe deveria ser um
> > exercìcio de reflexäo simbòlica por parte de todos para
> > fazer face à impotência e ao estigma de cauda da Europa,
> > infalivelmente destinados ao caos e ao falhanc,o. Por ora,
> > estamos no lugar que merecemos. Näo hà ainda capacidade
> > popular e demòfila para impor a expressäo do voto que, ao
> > que parece, foi socialista durante este 6 anos de terapia de
> > mercados. Neste momento, näo me ocorre nenhum governo que
> > se reja pelo seu povo ainda que o contràrio seja
> > invariavelmente factual.
> >
> > Talvez manifestac,öes apartidàrias como a de 12 de
> > Abril ajudem a ilustrar o que tenho dito. Serà que ter sido
> > um dos maiores movimentos contestatàrios populares dos
> > ùltimos tempos näo tem que ver com a ausência de
> > politiquice standard(?). Acredito em contestac,äo sem a
> > colherada do PCP ou Bloco que, por hàbito säo oposic,äo
> > ao governo e "mercados". Säo partidos que
> > nasceram para se oporem e, por muito sinistra que
> > seja a minha inclinac,äo polìtica, acho que deixei para
> > tràs o enquadramento formal do exercìcio da cidadania.
> >
> > Por isto e pelo desencanto, creio que o Partido Em Branco
> > seja maior afirmac,äo. Sem candidatos, sem nomes, sem cor,
> > sem carismàticos trapac,eiros. Um partido composto à
> > posteriori com portfolios e CV's como é exigido a
> > qualquer profissional. E, sobretudo, elementos concentrados
> > no interesse da soberania portuguesa para além do atletismo
> > do poder.
> >
> >
> > E agora tenho de voltar ao trabalho. Näo se pode suspender
> > a economia do lar.
> > Vou fazer madeira falsa, a partir da Suic,a, para imprimir
> > em Taiwan. Depois, o pvc vai para Portugal, colado sobre a
> > cortic,a e distribuido para todo o mundo como um produto
> > ecològico. Um êxito, asseguro-vos.
> >
> > (talvez me devesse despedir)
> >
> > Bom dia.
> >
> > 2011/4/13 Dinis
> > Santos <dinismanueld  gmail.com>
> >
> > Sobre a ameaça dos mercados que ganharam características
> > humanas nos últimos tempos como ("os mercados estão
> > nervosos, ou desconfiados"...) e sobre a tecnocracia
> > financeira:
> >
> > "PORTUGAL’S plea for help with its debts from the
> > International Monetary
> > Fund and the European Union last week should be a warning
> > to
> > democracies everywhere."
> >
> > (perdoem-me não tenho a certeza se toco ou não toco o
> > campo da arte...)
> >
> > http://www.nytimes.com/2011/04/13/opinion/13fishman.html?_r=1
> >
> >
> >
> >
> >
> > (sobre eleições e votos em branco...ainda há partidos,
> > com respostas concretas e distintas relativas aos assuntos
> > graves da última década, aos quais não foi dada a
> > oportunidade de ter mais expressão parlamentar...)
> >
> >
> >
> >
> > Dinis Santos
> >
> >
> >
> > 2011/4/12 miguel leal
> > <ml  virose.pt>
> >
> >
> >
> >
> > Olá uma vez mais,
> > Continuando a recentrar o debate na questão que
> > o FJP levantou com a imagem dos seus 'amigos
> > isladeses', lembrei-me de um texto que escrevi há uns
> > meses sobre vulcões (islandeses), nuvens, ecomomia e
> > política, e que parece vir mesmo a calhar. O texto foi
> > escrito para a publicação 'State of Motion',
> > editada pelo Colectivo Piso (Berlim, 2011). <
> http://piso-collective.blogspot.com/p/publications.html>
> >
> >
> >
> > abs
> > ml
> >
> > _________________________________________________A metonymy of
> displacement:
> > Clouds and volcanoes
> >
> >
> > _________________________________________________
> >
> >
> >
> >
> > We know from
> > physics that every displacement is relative. It seems there
> > is no such thing as displacement without a point of origin,
> > without a point from where to measure both the direction and
> > the distance of a certain movement from one place to the
> > other. In those terms displacement can only be defined as a
> > relative condition: the actual position (B) being relative
> > to an initial position (A). To be out of place is to be
> > displaced. We obtain the figures of our displacement by
> > measuring the difference between A and B, a difference that
> > implies not only space but also time. The sense of
> > displacement depends on this relation between A and B, there
> > and here, then and now. However, we also know things can be
> > much more complicated. For instance, the kind of measurement
> > we were just describing usually uses as reference a straight
> > line going from A to B from which it is impossible to draw
> > the real path taken during the displacement from one point
> > to the other. Displacement is always an awkward situation
> > based on strange connections between time and space.
> > Displacement is not (only) a matter of measurements. Imagine
> > A and B are not only two but a multiplicity of points,
> > imagine then is now and now is then, imagine there is here
> > and here is there, imagine everything is out of place. How
> > to define displacement from such a complicated placement of
> > things? Retaining the basic idea that every displacement is
> > relative, we will try to step a little further into
> > this.
> >
> >
> >
> >
> > Shifting
> > quickly to psychoanalysis, the terrain of a very complex
> > notion of time and space, we will discover other useful
> > notions to think about this topic. In fact, Freud, haunted
> > by his former education as a neurologist, always felt
> > tempted to explain the functioning of the unconscious
> > through topographic models. Early in his work we find the
> > very notion of displacement (verschiebung) being used as a
> > key concept to describe certain unconscious processes of the
> > psyche. Although the notion of displacement was approached
> > differently throughout his vast work, Freud always kept it
> > as a way to explain the reattachment (by a repressive
> > displacement) of something to something else: B in the place
> > of A; A transposed to B. But the interesting (and
> > complicated) part of this process is that this Freudian
> > displacement — relative as any other displacement —
> > implies a forgotten origin. We are displaced without any
> > notion of displacement. And, in the end, reenacting it all,
> > we discover that B is not B and it’s not A; A is not A and
> > is not B. During this process A and B are transformed into
> > something else. There is no return to any ideal point of
> > origin. Furthermore, looking back critically at Freud and
> > psychoanalysis, we realize there is no point of origin at
> > all: A transforms B and B transforms A; this process is pure
> > transformation and we never really get the answers we
> > expect. Years later Lacan[1], opening the book of
> > linguistics to explain a former topological problem,
> > compared displacement to metonymy, the figure of speech in
> > which a thing or concept is not called by its own name.
> > Actually, with the notion of displacement proposed by
> > psychoanalysis we enter a completely different terrain, less
> > topographic and extensive and more complex and intensive, a
> > terrain where everything is out of place and where words
> > speak different languages, a terrain where there are no
> > points (A, B or even C) but only intensive connections
> > between them. Following this, and knowing already how A and
> > B are not what they seem to be, we also realize there is no
> > such thing as a line between A and B, but only points
> > precariously situated at the intersection of several
> > lines[2]. Every displacement is in fact relative but is also
> > intensive, complex and sometimes contradictory.
> >
> >
> >
> >
> > **
> >
> > Early this year
> > an Icelandic volcano with an unpronounceable name —
> > Eyjafjallajökull — woke furiously from a long period of
> > rest. Overwhelmed by it, but feeling safe monitoring the
> > event at distance, we were far from imagining the real
> > effects of this eruption in our lives. In fact, a huge cloud
> > of ashes extended its long tail over Europe, creating chaos
> > in the skies. Flights cancelled and airports closed, Europe
> > rediscovered its geography and experienced something
> > different about the idea of displacement and the effects of
> > the so-called globalization.
> >
> >
> >
> >
> > First in April
> > and again in May, the cloud of volcanic ashes covered the
> > skies in an insidious manner, quickly reaching central and
> > southern Europe. Invisible and silent as it was, at least
> > from the ground, the cloud could only be (roughly) followed
> > through satellite images and its position at a certain
> > moment was always hard to determine with precision. So,
> > during those two short but intense periods, some of us were
> > transformed in amateur meteorologists and volcanologists,
> > looking desperately in sites such as the London’s Met
> > Office for information about a new monstrosity living
> > somewhere over our heads[3]. To a certain extent, we were
> > standing still whilst trying to follow such an invisible
> > (but huge) and ever-changing cloud, feeling uncomfortable
> > knowing that something unpredictable was moving fast causing
> > a temporary crash in the way we were dealing with geography,
> > time and space. Things that we somehow took for granted
> > suddenly disappeared: we were displaced without a single
> > move from the place we were standing in.
> >
> >
> >
> >
> > There are
> > several ways to link the effects of this eruption to the
> > idea of displacement. One of them is precisely the feeling
> > of perceptive disarrangement caused by the observation of an
> > object that is moving while the observer is standing still
> > (or the other way around), something that everyone has
> > already experienced, for instance, looking up to the sky
> > covered in fast moving clouds. But with the cloud of ashes
> > caused by the Eyjafjallajökull the resulting displacement
> > was coming more from the secret unpredictability and
> > dimension of the phenomenon than from any bodily sensation.
> > In fact, this cloud of ashes was to connect very closely
> > those two figures of the unpredictable — the cloud and the
> > volcano — and their corresponding
> >
> >
> >
> >
> > sciences —
> > meteorology and volcanology —, and so bringing a new
> > certain uncertainty to our daily lives. In this way the
> > cloud of the Eyjafjallajökull is able to force an ideal
> > geography (both personal and collective) to collide with
> > reality, offering at the same time an impressive metaphor to
> > the dark times announced by the ongoing financial crisis.
> > There is a shared secret monstrosity linking the real but
> > invisible cloud of ashes to the metaphoric but quite real
> > dark cloud originated during the 2009 financial breakdown.
> > Both clouds were able to produce a feeling of impotence that
> > transforms our lives and our experience of time and space,
> > building, reshaping and even destroying our personal and
> > collective geographies.
> >
> >
> >
> >
> > Similarly to
> > the effects of the cloud of ashes, this financial crisis
> > caused things that we somehow took for granted to suddenly
> > vanish: we were displaced but forced to stay in our place.
> > This is not only a question of knowing, for instance, if
> > there is a chance for the politics of social welfare; this
> > is a question of knowing if this is not simply an excuse to
> > terminate any idea of political action. Neither politics nor
> > the economy have been able to move from reaction to action.
> > We are facing a simulacrum of consensus which announces the
> > end of politics and the rise of a new pragmatic approach to
> > the art of governing. The problem is that the economy — as
> > we have learned from the Eyjafjallajökull and the threat
> > posed by its bigger and more dangerous neighbour, the Katia
> > — is also a kind of Russian roulette: we never really know
> > when it is going to erupt again. More so, in one way or
> > another, it’s easier to talk to clouds and volcanoes than
> > to the markets or the technocracy of the economists. Clouds
> > and volcanoes are unpredictable, that is true, but at least
> > they are not trying to occupy every interstice of our lives.
> > They are ungovernable and that is the reason for their
> > threatening beauty.
> >
> >
> >
> >
> > Miguel
> > Leal
> > Porto, October
> > 2010.
> >
> >
> >
> >
> > P.S. Reading
> > the text again I have just realized that I ended writing
> > about clouds, volcanoes and politics when I intended to
> > write about art and its figures of change and
> > transformation, something that turned my words into a truly
> > metonymy of displacement…
> >
> >
> >
> >
> >
> > [1]
> > “L’Instance de la lettre dans l’inconscient ou la
> > raison depuis Freud” (1957).
> >
> >
> >
> >
> > [2] “It is
> > not the line that is between two points, but the point that
> > is at the intersection of several lines” (Deleuze,
> > Pourparleurs, 1990, p. 219).
> >
> >
> >
> >
> > [3] The Met
> > Office is the UK's National Weather Service. The Met
> > Office hosts the London Volcanic Ash Advisory Centre (VAAC)
> > and during this crisis updated every six hours forecasts
> > monitoring the volcanic ashes cloud <
> http://www.metoffice.gov.uk/aviation/vaac/vaacuk_vag.html>.
> >
> >
> >
> >
> > __________________________________
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> > On 12Apr2011, at 3:54 PM, Fernando José Pereira
> > wrote:
> >
> >
> >
> > Escrevi já há alguns anos um texto que se intitulava
> > "O elogio da infâmia", aí referia-me às
> > possibilidades políticas de tal acto. A infâmia, neste
> > mundo controlado e anestesiado é, de imediato, arredada
> > para territórios "impróprios" que nos querem
> > fazer querer exteriores aos limites do tolerável. Ora, como
> > facilmente poderão constatar, não abdicamos da discussão
> > e pensamos até, que a dissensão é a base de todo o
> > pensamento político democrático. Aquilo que não
> > tolerámos enquanto coordenadores de uma lista pública é a
> > sua distorção em lugar de disputas pessoais (aparentemente
> > próximas da ideia de antagonismo que defendemos mas, como a
> > realidade facilmente demonstra, distantes da eficácia
> > política e, logo social, da noção).
> >
> >
> > É por demais evidente que vivemos dias de excepcionalidade
> > política: querem-nos suprimir a possibilidade democrática
> > de discordar, querem-nos fazer querer, como muito bem
> > exemplificava o Miguel Leal na sua metáfora, que estamos
> > inevitavelmente entregues a uns especialistas que nos vão
> > tratar da saúde...
> >
> >
> > Ora, o que neste momento importa pensar é a nossa
> > condição de artistas, de cidadãos interessados,
> > envolvidos que estamos nesta teia espiralada de que temos
> > dificuldade em nos libertar. A ideia inicial, quando
> > coloquei nesta lista uma imagem de um mural próximo do
> > aeroporto de Reikjavik, era tentar encontrar, neste espaço
> > de diálogo, ideias para a nossa autodefesa, ideias que
> > pudessem ser partilhadas e, se possível, aprofundadas pelos
> > mecanismos de discussão que temos ao nosso dispor. É
> > evidente que não é inocente a sua escolha. É verdade que
> > a politização das nossas discussões é mais necessária
> > que nunca. Agora uma coisa é certa, nunca nos quisemos
> > distanciar da nossa condição, não temos soluções
> > milagrosas, nem queremos. Aquilo que nos preocupa é olhar
> > em redor e verificar que a anestesia se torna cada vez mais
> > visível e que nos enredamos em discussões estéreis ou
> > superficiais ou mesmo corporativas. Não por acaso os picos
> > de participação desta lista estão inevitavelmente ligados
> > a processos deste género. A minha sugestão enquanto
> > coordenador desta lista vai no sentido de apelar à
> > colaboração de todos na discussão aberta dos nosso
> > problemas e que se evitem, de uma vez por todas, as
> > aproximações ao que de pior têm este tipo de espaços
> > (estou a lembrar-me, não por acaso, dos espaços de
> > comentário que existem nos jornais on-line onde as
> > respectivas direcções sentiram necessidade de
> > controlar).
> >
> >
> > A escolha da Islândia para dar início a uma
> > discussão é sintomática daquilo que se está a passar cá
> > e lá: por cá dizem-nos que quase nem sequer vale a pena
> > votar pois tudo será decidido a outro nível; por lá
> > vota-se livremente e pensa-se livremente assumindo por
> > inteiro as responsabilidades de tais actos. Só podem ter a
> > minha maior admiração.
> >
> >
> > Os artistas Islandeses estão, também eles,
> > envolvidos neste processo. Juntemos à foto do mural esta
> > outra iniciativa levada a cabo por artistas, com a
> > colaboração do Reykjavik City Theatre: a leitura
> > ininterrupta, por todos aqueles que trabalham naquela
> > instituição, das milhares de páginas do relatório sobre
> > a bancarrota do país, entretanto publicado. A acção
> > decorreu com as portas do teatro abertas 24 horas e
> > transformou aquele espaço cultural no centro mediático da
> > discussão em torno de um documento que, à partida, é
> > feito por especialistas e para ser entendido apenas por
> > especialistas. Foi uma acção maravilhosa.
> >
> >
> > A Islândia é, neste momento, território infame para
> > os experts de que fala a Laurie Anderson. Ainda bem
> > para eles. E nós por cá...?
> > NOTA: aqui têm o texto completo para que não
> > restem dúvidas sobre o que afirmo.
> >
> >
> >
> > Fernando José Pereira
> >
> >
> > O elogio da
> > infâmia
> >
> >
> > A infâmia é um lugar
> > fronteiriço, um significado vazio que corporiza, como tal,
> > a existência de duas
> > entidades separadas e preenchidas de significações
> > opostas. Assim, a
> > localização territorial da infâmia fornece-lhe a
> > possibilidade impar de
> > protagonizar o antagonismo. A actual preocupação liberal
> > de procura desvairada
> > de consensos situa a infâmia como lugar de resistência
> > que, desta forma,
> > curiosamente se vê transformada em partícula essencial da
> > vida democrática.A territorialidade infame afirma
> > radicalmente a dissensão. É neste lugar que devemos
> > concentrar a nossa atenção
> > e não nas suas confluências limítrofes. A
> > categorização, sempre subjectiva, dos
> > conteúdos por estas introduzidos e utilizados
> > apresenta-se, assim, como
> > profundamente secundarizada relativamente ao imenso poder
> > do lugar infame.
> > Acima de tudo, porque este se apresenta, sempre, como
> > amoral, longe da lógica
> > unívoca da razoabilidade moralista ou, então, da sua
> > oposição polar imoral,
> > afinal faces da mesma moeda.Algumas tradições transmontanas
> > de comemoração do carnaval, em que populares de aldeias
> > vizinhas se opõem
> > verbalmente, utilizando os mais variados e fortes insultos,
> > afirmam-se como uma
> > curiosa estruturação espacial. Este território
> > fronteiriço, formalizado pela frontalidade
> > simétrica de dois lugares altos, dois montes, separados
> > por um vale
> > apresenta-se como uma fortíssima metáfora da
> > democraticidade antagonista.
> > Afirma, no entanto, Slavoj Zizek que um dos problemas das
> > democracias liberais
> > contemporâneas é a transformação da ideia de
> > antagonismo em possibilidade
> > unicamente agonística, isto é, uma pacificação “bem
> > comportada” da anterior
> > noção de combate. É neste ambiente adormecido que surge
> > o potencial da infâmia
> > porque, por isso mesmo, a sua conotação negativa lhe
> > permite um posicionamento
> > radical. Debaixo do fogo “politicamente correcto”, o
> > território infame afirma
> > uma vitalidade e um protagonismo que lhe é oferecido em
> > nome próprio. O
> > alastramento PC a todas as esferas da vida, a arte
> > incluída, determina, então, uma
> > espécie de nova transparência[1] consensual em que tudo se encontra
> dentro
> > dos “limites”
> > deixando, naturalmente, de fora a nomeação “exterior”
> > da infâmia.As razões são sempre as mais
> > importantes, as mais próprias, as mais razoáveis e,
> > apesar disso, apetece
> > sempre estar como reduplicatio, isto
> > é, numa posição que nunca se ajusta verdadeiramente ao
> > seu lugar. Na
> > contemporaneidade light e liberal
> > este é o território da
> > infâmia.Como afirma Alain Badiou na tese
> > 14 das suas “quinze teses sobre arte
> > contemporânea”:“Posto que se encontra seguro da
> > sua capacidade para controlar todo o campo do visível e do
> > audível através das
> > leis que governam a circulação comercial e a
> > comunicação democrática, o Império
> > já não censura nada. Toda a arte e todo o pensamento
> > estarão perdidos se
> > aceitarmos essa permissão para consumir, para comunicar e
> > para desfrutar.
> > Deveríamos, por isso, convertemo-nos em cruéis censores
> > de nós próprios.”[2]
> >
> >
> > A arte é um lugar
> > infame.
> >
> >
> > * A etimologia da palavra
> > é latina e decompõe-se
> > da seguinte forma: in=non; fama (v.q.
> > voce). Esta má fama inicial, que era importantíssima nas
> > leis romanas, foi
> > alargando a sua carga de significação até aos nossos
> > dias. Assim, no dicionário
> > português,  apresenta-se como s.f. e com as seguintes
> > significados: má
> > fama; acto ou dito infame; perda de boa fama; labéu
> > imposto por lei ou pela
> > opinião pública; descrédito; ignomínia; desonra;
> > calúnia, difamação; injúria;
> > indignidade; vitupério;
> > opróbrio.
> >
> >
> > Fernando José Pereira
> > Outubro 2006
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> > [1]
> > Não
> > devemos, contudo, esquecer que, como afirma Juan Luís
> > Moraza, nada é mais invisível que a evidência, pois esta
> > funciona como um
> > marcador contextual que desvia o olhar daquilo que se
> > supõe dever permanecer
> > oculto.
> >
> >
> >
> > [2]
> > Tradução minha
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> > _______________________________________________
> > ARENA mailing list
> > ARENA  lists.virose.pt
> > http://lists.virose.pt/mailman/listinfo/arena_lists.virose.pt
> >
> >
> >
> >
> >
> > _______________________________________________
> >
> > ARENA mailing list
> >
> > ARENA  lists.virose.pt
> >
> > http://lists.virose.pt/mailman/listinfo/arena_lists.virose.pt
> >
> >
> >
> >
> >
> > --
> > Dinis Santos
> > ====================
> > 96 738 52 32
> > dinismanueld  gmail.com
> >
> >
> >
> > _______________________________________________
> >
> > ARENA mailing list
> >
> > ARENA  lists.virose.pt
> >
> > http://lists.virose.pt/mailman/listinfo/arena_lists.virose.pt
> >
> >
> >
> >
> >
> > --
> > ✖
> > Virgínia
> > Valente
> > ✖
> >
> >
> > ➜ http://not-wolf.com/
> > ☎ +351 96 463 30 71
> >
> >
> > -----Adjunto en línea a continuación-----
> >
> > _______________________________________________
> > ARENA mailing list
> > ARENA  lists.virose.pt
> > http://lists.virose.pt/mailman/listinfo/arena_lists.virose.pt
> >
>
> _______________________________________________
> ARENA mailing list
> ARENA  lists.virose.pt
> http://lists.virose.pt/mailman/listinfo/arena_lists.virose.pt
>
-------------- próxima parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://lists.virose.pt/pipermail/arena_lists.virose.pt/attachments/20110414/4a99eeab/attachment-0001.html>


Mais informações acerca da lista ARENA