[ARENA] SHOCKING PINKS

João Mourão joao.felix.mourao gmail.com
Terça-Feira, 15 de Setembro de 2009 - 19:58:38 WEST


Sábado, dia 19 de Setembro, às 19h00, na Sala Buondi do Cinema São Jorge.

SHOCKING PINKS

Ana Pérez-Quiroga
André Alves
Carla Cruz + Ângelo Ferreira de Sousa
Carla Filipe
João Leonardo
Luisa Cunha

Participação Especial: CALHAU!

Curadores: João Mourão e Nuno Ramalho

Exposição patente no:
Queer Lisboa 13 - 13º Festival de Cinema Gay e Lésbico de lIsboa
18 a 26 de Setembro 2009 Cinema São Jorge
www.queerlisboa.pt

Esta exposição é uma tentativa de provocação. Sobretudo, provocar o
que é expectável, dado que é aí que se pode realmente inscrever um
desafio aos padrões que instituem o normativo. Porque mesmo quando se
trata de abordar o que se entende por desvio, é difícil oferecer
protagonismos a agentes menos colados a parâmetros e construções
conformes a modelos entretanto ensaiados, por isso previsíveis. Ideias
em torno dos fantasmas que assolam o campo social (cujo derradeiro
papel, segundo alguns,  poderá ser o da desestabilização, da ameaça
conducente ao caos, da sabotagem) são na maior parte das vezes ideias
feitas – mais claramente na sua propagação por um imaginário
tipicamente conservador, de status quo; de forma menos visível, na
maneira como a presença de tais ideias se esvai da ameaça que
supostamente lhes está subjacente, instituindo-se apenas enquanto tubo
de escape numa constelação de complexidades humanas estruturantes que,
segundo nos garantem (e nós aprendemos a garantir), importa acima de
tudo preservar. Aliás, no contexto dessa preservação assiste-se a um
acelerar na procura de consensos alargados, de inclusão dos
“transgressores” que, aparentemente, mais não procuram do que uma
participação reconhecida e inofensiva num modelo social prevalecente.

 No decorrer dos processos apenas esboçados, só a perda de
potencialidades possivelmente bem mais interessantes, inscritas numa
vontade e manifestação da diferença frente àquilo que naturalmente
tende para o nivelamento, parece ser inevitável.

A actividade artística é abundante em produções que procuram pensar os
sentidos do mundo noutras direcções, sublinhando a vontade irrecusável
de pensar e agir de forma diferente; essa é, afinal, uma das suas mais
celebradas qualidades – sendo igualmente uma das menos pensadas e
possivelmente das mais temidas. Parece-nos importante tentar resgatar
esse potencial, mas de uma forma menos contida e espectacular.

Seria bastante cómodo propor um projecto expositivo que oferecesse
propostas caracterizadas pela agressividade ou pelo exercício de
choque, ou ainda pela demonstração ilustrada de um ponto de vista
correctamente estruturado; de certa forma, seria expectável que isso
acontecesse. No entanto, estaríamos a sabotar aquilo que, em conjunto
com os artistas e testemunhas desta exposição, nos interessa pensar
bem como as formas de o fazer. Tal não passa certamente pela
exploração da pose, um previsível tique decorativo sem qualquer
possibilidade de abalo que se sobrepõe excessivamente a muitos dos
discursos correntes na produção artística. Isso é por demais
assinalável tanto nas propostas supostamente desligadas de toda e
qualquer preocupação fora do âmbito “estritamente artístico”, como nas
obras que circulam e adquirem a tão ambicionada visibilidade com o
apêndice das “preocupações” (ideológicas, políticas, humanitárias,
etc).

O que nos interessou foi deixar pontas soltas. Na escolha dos
artistas, na observação sobre as suas propostas (cujo resultado passa
por esta apresentação), no estabelecimento de limites definidos
capazes de encerrar um ponto de vista sustentado... Seria também
bastante mais fácil ancorar qualquer uma destas linhas numa
dissertação carregada de eficácia e segurança com princípio, meio e um
confortável fim, capaz de assegurar a mais-valia de modelos que
demonstrassem como e quando e a que propósito pensar a diferença.

Mas, em consonância com os verdadeiros agentes do que é estranho, do
que se quer distinto, daquilo que é capaz de abalar e deixar novos
incómodos, preferimos não o fazer. Esta proposta pretende assentar
sobre essas formas de vontade, esquivando-se à pedagogia inscrita numa
tentativa de lição sobre o que pode significar queer em Portugal (nem
sequer nas artes portuguesas, e ainda que implicitamente esse seja um
dos dados deste projecto), mas evitando igualmente o embate amordaçado
do atordoamento com lugar marcado. Tudo aqui é mais subterrâneo, e
implica necessariamente uma outra disponibilidade – ou pelo menos o
fascínio de olhar por aí.

Procurou deixar-se passar (sem o deter) o contexto que nos interessou
abordar de uma outra maneira, permeável às formas como os artistas
apresentados a pensam, neste contexto e para este momento. Essas
formas de pensar tocam-se, convidando-nos a participar nesse contacto
e experimentação. Aqui está implicado um dos propósitos fundamentais
desta exposição: ensaiar uma possibilidade de pensar a diferença, não
de uma forma contida e exemplar, seguindo o trilho de um lado ao
outro; mas em terreno aberto, instável, onde a inquietação de cada um
possa concretamente tornar-se activa e participar.

João Mourão e Nuno Ramalho



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