[ARENA] Appleton Square | Susana Mendes Silva | Inauguração: Quarta-feira, 14 de Maio 2008, 22:00
susana mendes silva
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Quarta-Feira, 14 de Maio de 2008 - 09:44:53 WEST
SUSANA MENDES SILVA
SQUARE DISORDER
14 de Maio – 13 de Junho 2008
Inauguração: Quarta-feira, 14 de Maio 2008, 22:00
"My formats are square, but the grids are never absolutely square;
they are rectangles, a little
bit off the square, making a sort of contradiction, a dissonance,
though I didn't set out to do it
that way. When I cover the square surface with rectangles, it lightens
the weight of the square,
destroys its power."
Agnes Martin
Susana Mendes Silva
SQUARE DISORDER
É eminentemente inequívoca a urgência com que as práticas artísticas
recentes têm vindo a hostilizar as estruturas expositivas e
museológicas a partir de um posicionamento interno a essa construção
ideológica. Este predicamento, não sendo novo nem inocente, predispõe-
se nos tempos que correm a certas inflexões que pronunciam uma
ambivalência relativa à postura crítica que as obras assumem dentro
dos espaços em questão ou no âmago das posições criativas dos seus
autores.
Na presente peça (Square Disorder, 2008), Susana Mendes Silva enuncia
esta postura em forma de continuidade com algumas das suas anteriores
peças, desenvolvendo internamente a um modelo assimilado, e por isso
mesmo destabilizador, o potencial analítico que capacita a instalação
para deslizar a várias tipologias, neste caso indivisíveis (desde o
desenho à escultura e performance).
Ao entrar no espaço o observador depara-se em primeira instância com
uma sala vazia para num segundo momento, já dentro do espaço
aparentemente desabitado, ser acariciado por uma matéria até aí
invisível e que detecta nessa circunstância serem fios ou finos
cabelos que escorrem na vertical para o chão. Estes filamentos flúem a
partir de uma grelha construída também a partir de cabelos e que coroa
as paredes da galeria a cerca de dois metros de altura.
Esta grelha poderia noutro contexto ser sancionada como teia, as
metáforas do cabelo produzem vínculos a campos retóricos aos quais
Susana escapa de forma assaz, estes cabelos não são cabelos mas sim
uma imitação postiça que corresponde ao arquétipo de cabelo.
Ao utilizar um material tão sobrecarregado ideologicamente na sua
disposição contrafeita a artista parece realçar o carácter adulterino
dos contactos e das negociações que se produzem dentro das quatro
paredes do cubo branco como que para sustentar essa dupla falência; a
condição orgânica do material é posta de parte e consequentemente
liberta-se do constrangimento das traduções habituais desta matéria,
não existe a mínima indispensabilidade em invocar as suas filiações
abjectas ou escatológicas, e isto se tivermos em conta apenas as
histórias da arte mais recente, para poder desta forma lançar uma
proposição: a grelha como emulação e dilatação da estrutura ideológica
da concepção modernista de espaço expositivo.
Susana amplifica o antagonismo interno entre a estrutura ideológica do
cubo branco e a suposta organicidade dos filamentos capilares que são
cabelos falsos - antagonismo ideológico entre a ordem e regra e a
condição abjecta e sacra do cabelo e suas metáforas, que se opõem à
concepção de grelhas cuja natureza estruturante as afasta de
organizações mecânicas ou rígidas em sentido puro.
A artista estimula portanto uma mitigação da suposta oposição entre a
leveza e neutralidade do espaço branco e a condição infame de um
material que parece ser desqualificado ao passar do estado orgânico ao
estado duplamente geométrico e ordenado quer por ser um duplo
artificial quer pelo tratamento formal que lhe é dado.
Nesta operação podem encontrar-se reverberações de gestos
performativos e teatrais que têm questionado a reputação do cubo
branco nas últimas décadas e parece permissível a aproximação desta
peça à instalação de Melanie Counsell para a Matt’s Gallery de 1995 ou
a “Coats of Asbestos Spangled with Mica”, 2002 de Liam Gillick.
Estas intervenções extraem ao vocabulário arquitectónico o valor
metafórico da cobertura ou tecto e usufruem da qualidade figurada de
um elemento que serve ao mesmo tempo de protecção ou resguardo e de
cenário.
Nesta probabilidade a intervenção de Susana Mendes Silva projecta no
espaço da galeria a desordem repetida por insinuar que a grelha que
nos serve de tecto pode intermitir entre ser um objecto ou um cenário/
envolvência e tenta ainda catapultar essa experiência mediada pela
estrutura escassamente visível para o limiar de um entendimento
corporal provocador e incomodativo que contraria o processo de
comodificação valorativa das habituais intervenções tácteis ou visuais.
Ao arriscar no título da peça uma aproximação ao nome do espaço,
Square Disorder dentro de Appleton Square, a artista parece insinuar a
inevitabilidade de um processo de refundação do poder efectivo do
espaço e a sua influência nas potenciais leituras da intervenção.
Desta atitude podemos inferir que esta grelha aligeira o peso do
quadrado e destrói a sua soberania.
João Seguro
Appleton Square
Rua Acácio Paiva, 27, R/c, 1700-004 Lisboa.
www.appletonsquare.pt
3ª - Sábado 14:00 – 19:00
Para mais informação, por favor contacte:
Vera Appleton
vera appletonsquare.pt
+351 210 933 660
+351 917 888 472
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