[ARENA] CONFERENCIA PAULO MENDES + EXPOS

Paulo Mendes paulomendes paulomendes.org
Quinta-Feira, 5 de Junho de 2008 - 23:12:46 WEST


Conferência de PAULO MENDES no Museu do Neo-Realismo_

com e sobre o trabalho de Paulo Mendes_
dia 8 Junho, próximo Domingo _ 16 horas

+ informação _ http://www.paulomendes.org

Auditório do Museu do Neo-Realismo
Museu do Neo-Realismo
Rua Alves Redol 45 _ Vila Franca de Xira
www.museudoneorealismo.pt

Estão actualmente em exibição duas exposições com trabalhos diferentes
desta série _

S de SAUDADE, DIORAMA da nossa HISTÓRIA NATURAL
Museu do Neo-Realismo
Exposição de 12 Abril _ 6 Julho 2008
Rua Alves Redol 45 _ Vila Franca de Xira
Horário_
Terça a Sexta _ 10.00H _ 19.00H
Sábados _ 15.00H _ 22.00H
Domingos _ 11.00H _ 18.00H
Encerra às segundas e feriados

S de Saudade, O Passado e o Presente
IN.TRANSIT # 35
1 Março _ 31 Maio 2008
Edifício Artes em Partes
rua miguel bombarda 457
4050-379 PORTO
terça a sábado. 14.30h. às 19.30h

O projecto S de Saudade foi apresentado até ao presente em três exposições
sempre com produção de novos trabalhos.

S de Saudade, Retratos da Vida Portuguesa
S de Saudade, O Passado e o Presente
S de Saudade, Diorama da nossa História Natural


Texto geral de apresentação do projecto S de Saudade _

“Só temos o passado à nossa disposição.
É com ele que imaginamos o futuro.”
Eduardo Lourenço, 1997

Este conjunto de exposições individuais de Paulo Mendes apresenta uma
série de novos trabalhos onde a fotografia, a pintura e o vídeo se
complementam em imagens que questionam o papel das artes plásticas na
representação e ao serviço do poder politico.

O retrato foi sempre um tema recorrente na pintura. Que valor iconográfico
e de relevância politica podemos hoje retirar ao olhar para retratos de
Salazar e de outras figuras da sociedade portuguesa de diferentes épocas?

“A invisibilidade constitui o próprio estado de Salazar. Ele é invisível e
quer-se como tal. Só raramente se mostra em público e ainda menos em
manifestações de massas. A sua pessoa física, a sua presença corporal não
se expõem aos olhares (…). Esta forma pouco habitual de presença de um
Ditador não escapou a António Ferro: “E este nome, Oliveira Salazar, (…)
começou a diminuir-se, a encurtar-se, até se engrandecer na sua redução à
expressão mais simples, até ficar sintetizado nesta palavra sonora
Salazar. Esse nome, com essas letras, quase deixou de pertencer a um homem
para significar o estado de espírito dum país, na sua ânsia de
regeneração, na sua aspiração legítima duma política sem política, duma
política de verdade.”
José Gil, 1995

Ultrapassadas pelo avanço da história essas representações estão agora
armazenadas em esquecidos acervos de museu ou em arquivos esquecidos de
televisão, como adereços ou fragmentos de uma peça fora de cena.
Abandonados os lugares da sua exposição pública, arrastados pela perda da
importância politica dos representados ficam agora depositados entre
outros retratados actualmente anónimos, entre cartões e máquinas de
climatização na tentativa de preservar a representação de uma história
pública.
Numa sociedade de brandos costumes, este lento apagar da memória
corresponde a uma amnésia colectiva.
p.m.07

///

O Labirinto da Memória
(excerto do texto de David Santos, director do Museu do Neo-Realismo)

Uma memória silenciada conduz necessariamente ao colapso da consciência e,
por conseguinte, da acção cívica e política. Por oposição, manter vivo o
passado, mesmo ou sobretudo as suas imagens e leituras mais angustiantes,
poderá assegurar-nos uma compreensão essencial sobre essa arqueologia
genealógica que define também, de algum modo, a nossa própria identidade.
Com efeito, é mais perigoso esconder a “imagem do mal” do que mantê-la
preventivamente presente. Só desse modo poderemos manter-nos atentos e
vigilantes quanto àquilo que não desejamos que volte a fazer parte da vida
da nossa sociedade.
(…)
Depois de uma eufórica recusa, Salazar voltou aos poucos a fazer parte da
memória de um país, ainda que atingindo o paroxismo protagonista de um
concurso absurdo que o elevou a figura mais importante da nossa história.
Esse foi um sinal mais de que tentar esconder é o pior dos caminhos quando
se pretende exorcizar o mal, pois enfrentá-lo de uma perspectiva crítica é
manter activa uma memória necessária, útil no seu esforço de
consciencialização sobre os valores alternativos que se lhe opuseram. Não
esqueçamos que também já fazem parte da memória histórica alguns dos
factores que contribuíram para uma oposição a Salazar. À falta de
liberdade de associação, o Portugal de hoje responde com a maturidade de
um sistema democrático que só não é mais participado porque o
individualismo materialista se instalou progressivamente entre a maioria
da população.

Á censura, responde o Portugal de hoje com uma comunicação social que
derruba ministros ao escalpelizar obsessivamente todo o seu passado
social, político e cívico. Por isso, Portugal mudou, e as novas gerações
têm hoje necessariamente uma relação mais distanciada com aquilo que
significou o Estado Novo e os sacrifícios por que passaram todos aqueles
que, em condições bastante adversas, lutaram pela liberdade e pelo pleno
exercício da cidadania. Na verdade, tal como nos lembra Eduardo Lourenço,
“só temos o passado à nossa disposição. É com ele que imaginamos o
futuro”. Mas do passado não possuímos apenas o que mais valorizamos. Os
períodos negros da nossa história não podem ser olvidados, sob pena de
voltarem dissimulados de novas ideias redentoras. Neste aspecto
particularmente atento a uma memória difusa mas essencial, Paulo Mendes
tem-se revelado um dos artistas portugueses mais capazes de fazer a
ligação crítica entre o domínio estético e uma leitura política sobre os
ícones que se desvanecem a cada instante. O esquecimento de uma
iconografia que faz parte da nossa história foi também o leitmotiv de um
conjunto de intervenções no espaço público da cidade do Porto, em 1999,
aquando da exposição “Quartel, Arte, Trabalho e Revolução” (projecto
comissariado por Óscar Faria e António Brás). Com “O 25 de Abril
existiu?”, o artista procurou questionar directamente o transeunte ao
espalhar pela cidade um número considerável de cromos a amarelo e a
vermelho com o rosto de alguns dos intervenientes do período
revolucionário, de Otelo a Vasco Gonçalves. Sem mais qualquer outra
identificação, as imagens resultavam como estranha inquietação sobre um
tempo distante e quase esquecido.

Na entrada para o novo século, já quase todos haviam dispensado essa
iconografia do PREC e a sua insinuante presença em postes de semáforos,
portões de obras de construção civil, bancos de jardim, etc, funcionava
como desafio a um “inconsciente óptico” ainda actuante, mesmo que perdido
na sua especificação de identidade. Se aí eram os retratos de propaganda
política dos anos 70 que se recuperavam do baú da memória, em “S de
Saudade”, Paulo Mendes vais mais longe no seu propósito de reificação
crítica do passado, invadindo o espaço expositivo com grandes telas
fotográficas onde se percebe uma contemplação não pelos valores do
passado, mas pela sua sedimentação residual no inconsciente colectivo,
conduzindo-nos até esses acervos de museu que deixam quase ao abandono os
retratos oficiais de Salazar que antes tinham o condão de despertar o
respeito de uma ordem instituída e hoje possuem apenas o pó do
esquecimento. Deles emana uma estranha e melancólica dignidade perdida.
Mas atente-se nessas imagens recolhidas fotograficamente e ampliadas à
escala da grande pintura de Museu; nelas o artista projectou uma outra
etapa de desgaste, aplicando de um modo agressivo a tinta que escorre,
deixando um novo lastro de apagamento que coloca estas imagens no plano de
uma crítica directa, como se fosse necessário recuperar esses retratos de
Salazar para voltar a afirmar uma negação, desta vez activamente assumida
numa postura que não esconde o seu sentido de oposição a toda essa memória
política do Estado Novo. Porém, Paulo Mendes sabe que não é escondendo a
imagem de Salazar que se superam os valores que ela representa. Antes pelo
contrário, o artista sabe que, num tempo marcado pelo lento apagar da
memória, e que coincide com uma progressiva reabilitação histórica da
figura do ditador que mais anos governou na Europa do século passado,
exteriorizar uma crítica à iconografia de Salazar é talvez a melhor
maneira de não a deixar regressar acriticamente dos confins da memória. O
problema não está, afinal, na actual visibilidade de Salazar, mas na sua
indiferente recuperação, sem a presença de um significado político e
social concreto, associado, como convém não esquecer, a um dos períodos
mais sombrios e retrógrados do nosso País. O branqueamento da figura de
Salazar não se faz com a recuperação crítica das suas imagens, mas com a
desusada inversão dos seus significados mais sólidos. Salazar foi um
ditador autoritário que prejudicou o desenvolvimento, a modernização
política, económica e social de Portugal e os seus efeitos ainda se fazem
sentir numa sociedade tendencialmente conservadora e imobilista, pouca
dada a iniciativas dinâmicas de construção do futuro. É esse o sentido da
actual exposição de Paulo Mendes no Museu do Neo-Realismo. Retocar
criticamente os retratos de Salazar é também a manifestação de um desejo
do artista: não deixar morrer a memória daqueles que o enfrentaram com
coragem e determinação. Ver e experimentar esta instalação é como
percorrer o corredor da memória e sentir que o pior é sempre o
esquecimento. Retocar o retrato de Salazar é uma tarefa que encontrou
sempre obstáculos e dificuldades, como o terá sentido António Ferro nas
entrevistas que conduziu para fazer do ditador um político mais conhecido.
O próprio Salazar escrevera então no prefácio dessas conversas: “Confessa
o autor deste livro ter encontrado na opinião pública uma ideia confusa,
contraditória, inexacta, do Ministro das Finanças e hoje Chefe do Governo;
e que daí nasceu o intento de iluminar alguns aspectos ignorados, de
vincar alguns traços mais expressivos, de fazer expor alguns problemas da
política e da administração pública, não abordados ainda e que melhor
esclarecessem o público. A questão pois, era no fundo, corrigir erros de
interpretação, retocar um quadro ou, melhor, uma fotografia mal focada,
substituir uma noção errada por uma noção exacta e justa do homem e da sua
obra”. Como António Ferro, Paulo Mendes encontra hoje “na opinião pública
uma ideia confusa, contraditória, inexacta do Ministro da Finanças” e do
Chefe de Governo do Estado Novo, mas por razões opostas àquelas que
mobilizaram o criador da “Política do Espírito”.

Com “S de Saudade”, Paulo Mendes parece ainda perguntar a cada um de nós
de que lado estamos neste momento em que as imagens de Salazar vendem
livros saudosistas e fazem manchetes nas revistas de sociedade por todas
as razões que podem fazer dele, como diria Nietzsche, a expressão de um
“humano, demasiado humano”. Talvez seja esse o labirinto da nossa memória,
ou a outra face de um Portugal esquecido já dos sacrifícios que permitiram
ultrapassar os ditames de Salazar e da sua política.


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