[ARENA] (sem assunto)

José Bartolo josebartolo esad.pt
Domingo, 6 de Abril de 2008 - 13:40:09 WEST


“Toda a obra de arte é um animal selvagem domesticado” Wittgenstein

Revejo-me nas lúcidas afirmações feitas pelo Tiago. Por defeito de  
formação, não me senti impelido nem a salvar o cão nem a atacar quem  
o violentou, antes me senti interessado em perceber o que está em  
causa no contexto da arte através de um trabalho como aquele.

Não vou aqui alongar-me em considerações sobre a crise da  
representação, contudo, sublinho, que ela é indissociável de uma  
transformação da dimensão ética associada ao trabalho artístico.

Não me parece, contrariando neste ponto a interpretação do Tiago, que  
o afastamento de uma dimensão representativa (que assentava na  
necessária diferenciação entre arte e vida) corresponda a uma crise  
da relação dialógica da arte com a realidade, pelo contrário.

Devo reforçar que, nem por sombras, me parece que por falarmos em  
“crise da representação” se deva falar em “crise” da arte  
contemporânea, sinal de uma espécie de indefinição ou perversão do  
lugar do artista, do público, do curador etc.

Creio, pelo contrario, que a arte contemporânea vai sendo capaz de  
afirmar lógicas criativas autónomas e verdadeiramente sedutoras,  
proporcionando uma nova exploração da ideia de “intervenção”,  
“colaboração” e “diálogo”.

Num texto recente, Jacques Rancière (“The Emancipaded Spectator”,  
Artforum, n.7, Março de 2007) falava num “espectador emancipado” e   
numa “igualdade de inteligências” entre espectador e artista,  
entendidos como “parceiros epistémicos”.

Esta arte que não se faz para si, nem para o público, mas com o  
público explorando uma reversibilidade de posições criador/receptor,  
artista/espectador, etc. e a partir delas não representa mas acciona  
os processos políticos, apresenta-se-me muito pertinente.

JB

On Apr 6, 2008, at 12:42 PM, Tiago Restivo wrote:

>
> Não restam quaisquer dúvidas em relação ao interesse e pertinência das
> questões que toda esta polémica em torno dos trabalhos aqui
> referenciados levanta.
> Os diferentes exemplos representam n contextos e sem dúvida não são
> passíveis de análises comparativas - daí não ser também a análise das
> suas qualidades intrínsecas a cerne desta discussão - no entanto fazem
> parte de um conjunto de manifestações que por alguma razão, mais ou
> menos produzida, ganharam uma relevância especial.
>
> Estamos perante o confronto entre aquilo que será a "expressão
> artística contemporânea" e o "entendimento social" dessa mesma
> expressão. Claro que é um assunto que deverá porventura interessar
> mais particularmente a um sociólogo do que a um artista, se a ênfase
> for dada a esse "entendimento social". No entanto existem questões
> específicas à criação artística paralelamente às anteriores se
> apresentam. Pelo meio se constrói uma ética, vacilante entre a acção
> da primeira e a reacção da segunda e que claro merece a nossa atenção.
>
> Pessoalmente é na primeira que penso com mais energia. A forma como o
> artista contemporâneo se vê confrontado com a necessidade de se
> envolver com a realidade, diluindo-se, subtraindo-se ou opondo-se a
> esta, é um assunto que ganha aqui uma força especial. Não entendo se
> alguns dos comentários que foram colocados nesta lista se referem a um
> desinteresse generalizado na condução destas questões - como se se
> tivesse encontrado também uma outra fórmula -, se representam um outro
> "estado de espírito" e daí a manifestação de uma certa
> indisponibilidade para as discutir, ou se de facto os trabalhos são
> tão pouco interessantes e mal resolvidos que não representam por si
> mesmos um exemplo para o diálogo. Penso que na maior parte das
> intervenções ficou por explicar melhor o que se quis dizer
> concretamente.
>
> Penso também que aqui foi exposta, um pouco à sorte, a evidência de
> uma crise da representação que há muito vem sendo discutida. Crise no
> sentido que o próprio artista não consegue mais estabelecer uma
> relação puramente dialógica com a realidade, nem tão pouco o
> observador consegue mais identificar uma relação mediatizada pela
> representação. Esta via, que é também contemporânea, tem com certeza
> raízes bem identificadas no passado. Mas mais do que estar a re-
> habilitar questões supostamente resolvidas, vem - como que testando -
> a revelar o efeito no nosso tempo dessa tentativa de integração da
> arte na/com realidade. Neste sentido também me parece interessante
> observar a inversão do papel observado-observador. A obra encontra-se
> também no seu exterior e assim a representação deslocou-se, passou a
> ser referência. Penso que é a partir deste processo, a partir do qual
> se perdeu a referencialidade do real, que se começam a colocar
> questões importantes e que poderiam a partir destes exemplos (ou
> outros) merecer a nossa especial atenção.
>
> De resto eu não serei de certeza a melhor pessoa para argumentar sobre
> estas questões e nesse sentido gostaria que quem em melhor posição se
> encontrasse, aqui o fizesse.
>
> Tiago
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