[ARENA] Não mais sobre o cão, mas a partir deste.

Tiago Restivo tiagorestivo gmail.com
Domingo, 6 de Abril de 2008 - 12:42:52 WEST


Não restam quaisquer dúvidas em relação ao interesse e pertinência das  
questões que toda esta polémica em torno dos trabalhos aqui  
referenciados levanta.
Os diferentes exemplos representam n contextos e sem dúvida não são  
passíveis de análises comparativas - daí não ser também a análise das  
suas qualidades intrínsecas a cerne desta discussão - no entanto fazem  
parte de um conjunto de manifestações que por alguma razão, mais ou  
menos produzida, ganharam uma relevância especial.

Estamos perante o confronto entre aquilo que será a "expressão  
artística contemporânea" e o "entendimento social" dessa mesma  
expressão. Claro que é um assunto que deverá porventura interessar  
mais particularmente a um sociólogo do que a um artista, se a ênfase  
for dada a esse "entendimento social". No entanto existem questões  
específicas à criação artística paralelamente às anteriores se  
apresentam. Pelo meio se constrói uma ética, vacilante entre a acção  
da primeira e a reacção da segunda e que claro merece a nossa atenção.

Pessoalmente é na primeira que penso com mais energia. A forma como o  
artista contemporâneo se vê confrontado com a necessidade de se  
envolver com a realidade, diluindo-se, subtraindo-se ou opondo-se a  
esta, é um assunto que ganha aqui uma força especial. Não entendo se  
alguns dos comentários que foram colocados nesta lista se referem a um  
desinteresse generalizado na condução destas questões - como se se  
tivesse encontrado também uma outra fórmula -, se representam um outro  
"estado de espírito" e daí a manifestação de uma certa  
indisponibilidade para as discutir, ou se de facto os trabalhos são  
tão pouco interessantes e mal resolvidos que não representam por si  
mesmos um exemplo para o diálogo. Penso que na maior parte das  
intervenções ficou por explicar melhor o que se quis dizer  
concretamente.

Penso também que aqui foi exposta, um pouco à sorte, a evidência de  
uma crise da representação que há muito vem sendo discutida. Crise no  
sentido que o próprio artista não consegue mais estabelecer uma  
relação puramente dialógica com a realidade, nem tão pouco o  
observador consegue mais identificar uma relação mediatizada pela  
representação. Esta via, que é também contemporânea, tem com certeza  
raízes bem identificadas no passado. Mas mais do que estar a re- 
habilitar questões supostamente resolvidas, vem - como que testando -  
a revelar o efeito no nosso tempo dessa tentativa de integração da  
arte na/com realidade. Neste sentido também me parece interessante  
observar a inversão do papel observado-observador. A obra encontra-se  
também no seu exterior e assim a representação deslocou-se, passou a  
ser referência. Penso que é a partir deste processo, a partir do qual  
se perdeu a referencialidade do real, que se começam a colocar  
questões importantes e que poderiam a partir destes exemplos (ou  
outros) merecer a nossa especial atenção.

De resto eu não serei de certeza a melhor pessoa para argumentar sobre  
estas questões e nesse sentido gostaria que quem em melhor posição se  
encontrasse, aqui o fizesse.

Tiago


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